Título: Inflação baixa em junho amplia chances de IPCA cumprir meta
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2012, Brasil, p. A3

Ao recuar de 0,51% para 0,18% entre maio e junho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) ficou muito abaixo do esperado pelo mercado e provocou uma onda de cortes nas projeções para o resultado fechado do mês. Economistas avaliam que, em uma época de inflação sazonalmente mais baixa, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis turbinou os efeitos de preços mais tranquilos em combustíveis, vestuário e habitação, movimento que deve atingir seu pico no fim de junho. Agora, se torna ainda mais provável um IPCA muito próximo do centro da meta de 4,5% em 2012.

A primeira metade do ano já mostra preços mais comportados. A taxa acumulada pelo IPCA-15 no primeiro semestre ficou em 2,58%, bem abaixo da inflação de 4,1% registrada no mesmo período de 2011. Na passagem do mês de maio para junho, apenas o grupo alimentação subiu, de 0,62% para 0,66%, devido a problemas de oferta na parte in natura.

A deflação de 0,77% em transportes, porém, foi mais que suficiente para compensar essa alta. No mês passado, os preços do grupo haviam caído 0,27%. Em junho, com a desoneração fiscal, os veículos novos ficaram 3,5% mais baratos e influenciaram o mercado de usados, que cederam 2,6%. Juntos, os dois itens tiveram impacto de menos 0,16 ponto percentual no IPCA-15. Os combustíveis também contribuíram, com queda de 1,5% no etanol e de 0,37% na gasolina.

A intensidade da retração em automóveis surpreendeu o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. Ele destaca, no entanto, a desaceleração geral nos preços. O índice de difusão do IPCA-15, ou seja, o percentual de preços que subiram, passou de 63% em maio para 60% em junho. A média dos núcleos de inflação - medidas que tentam reduzir ou expurgar o impacto de itens voláteis no IPCA - passou de 0,46% para 0,22% no período, segundo cálculos da LCA Consultores.

"O ritmo da atividade econômica está correndo abaixo do que o governo esperava e isso já está tendo impacto sobre a inflação", diz Velho. Diante desse cenário, o analista da Prosper deve revisar ligeiramente, de 4,9% para 4,8%, sua expectativa para o número fechado do ano, já que o IPCA-15 de junho implica inflação muito abaixo do esperado anteriormente para o fim do mês.

Fabio Ramos, da Quest Investimentos, esperava taxas maiores em vestuário, habitação e em passagem aérea, item que subiu 0,75% no IPCA-15 de junho. Após as surpresas, Ramos cortou sua projeção para o IPCA fechado do mês, mas sua expectativa para o fim do ano, de 4,8%, está mantida por enquanto, devido à possibilidade de aumento da gasolina. "O impacto desse reajuste no IPCA vai depender de uma redução ou não na Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico]. Mas deve ser algo pequeno, entre 0,1 e 0,2 ponto percentual."

Com ou sem movimentos pontuais, o recado que a leitura atual do IPCA-15 passa, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, é de inflação ao redor do centro da meta. Mesmo com uma alta mensal média entre 0,40% e 0,45% daqui para frente - hipótese não muito otimista - diz Leal, há espaço para o IPCA encerrar 2012 com elevação de 4,8%, sua nova estimativa após a divulgação de ontem, a menos que um reajuste de combustíveis nas refinarias chegue às bombas e o corte no IPI para veículos não seja prorrogado até o fim do ano.

Com o pico da influência da redução do imposto e pressões menores em alimentos, vestuário e outros grupos de menor peso no índice, os economistas ouvidos apostam que a inflação de junho ficará em torno de zero - a maior estimativa é de 0,07%. Sem a queda de 4,5% esperada para os automóveis novos, o analista Bruno Surano, da Votorantim Corretora, calcula que o IPCA de junho ficaria em torno de 0,15%, mesma taxa registrada em igual mês do ano passado. Ainda assim, seria a menor inflação mensal no ano.

Caso as projeções para junho se confirmem, a taxa em 12 meses, que foi de 4,99% em maio, deve continuar recuando e, a menos que uma possível mudança de preços da gasolina nas refinarias seja repassada ao consumidor, a inflação não irá mais voltar para a casa dos 5% em 2012.