Título: Sucessão no Senado reabre crise com PMDB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2012, Política, p. A5

A substituição do ministro Edison Lobão e a sucessão do Senado ameaçam abrir uma crise entre o PMDB e o Palácio do Planalto. Donos da maior bancada, os pemedebistas têm potencial para criar problemas na Casa. Dilma quer Lobão de volta ao Senado e substituí-lo pelo atual secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann, que se filiou ao partido no fim de março. O PMDB não considera Zimmermann um nome partidário e não lhe agrada a interferência da presidente da República na sucessão do senador José Sarney (AP), em fevereiro de 2013.

Em conversas na Rio+20, Lobão admitiu que a presidente gostaria que ele voltasse ao Senado para presidir a Casa, mas que ele prefere ficar onde está. Reação de quem está incomodado com a volta do noticiário sobre sua demissão. Na cúpula do PMDB trabalha-se para tratar da sucessão no Senado no início do próximo ano e nunca antes das eleições municipais de outubro. As fontes habituais do governo não dizem sim nem não, quando questionadas sobre o assunto.

"Quem vai decidir a eleição do Senado é a bancada do PMDB e os senadores", disse o presidente interino do partido, Valdir Raupp (RO). Ele não quer falar sobre a possibilidade de retorno de Lobão para suceder Sarney. "Não posso falar sobre hipótese. Não sabemos nem se Lobão vem [para o Senado] nem se Márcio Zimmermann será ministro. Por enquanto, não tem nada disso", disse ao Valor. O vice-presidente Michel Temer disse que a sucessão do no Senado será decidida pelo PMDB, que Lobão é um bom nome mas considerou que é cedo para tratar do assunto. "É um assunto extemporâneo", disse um assessor do vice.

Dilma avisou que gostaria de ver Lobão na presidência do Senado na mesma semana em que trocou os líderes do governo no Senado e na Câmara, em março. Ela também mandou dizer a Renan Calheiros - um ministro diz que o recado foi dado pessoalmente -, atual líder da bancada, que ele deveria esquecer a ideia de concorrer a presidente e concorrer ao governo de Alagoas, com o seu apoio. As sugestões foram feitas no mesmo contexto de renovação a que recorreu a presidente para justificar a mudança dos líderes governistas.

O grupo Sarney prefere que Lobão fique mais tempo no ministério, em condições de trabalhar uma eventual candidatura à sucessão da filha, Roseana Sarney, no Maranhão. Há notícias também de uma tentativa de Sarney para se reaproximar do ex-deputado Flávio Dino (PCdoB), considerado o nome mais competitivo para a disputa. A exemplo de Sarney, Renan também não gostou do que ouviu, mas já avaliava a possibilidade de concorrer ao governo de Alagoas.

Renan é considerado hoje o nome mais forte do PMDB à presidência do Senado. Mas líderes do PMDB avaliam que o escolhido poderá sim ser o atual ministro de Minas e Energia. Edison Lobão é senador licenciado - outro motivo para ele não querer voltar à Casa é que seu suplente é seu filho. Também há consenso entre os pemedebistas de que ele não deve retornar agora ao Senado, muito menos como um candidato imposto pela presidente Dilma Rousseff.

Sua saída do governo a mais de sete meses da eleição abriria uma disputa - entre Lobão e Renan - que não seria boa para nenhum dos dois. Aliados do ministro dizem que ele deveria intensificar sua aproximação com os senadores, mas permanecendo no governo. Deveria voltar ao Senado somente mais tarde, depois das eleições municipais, de preferência após entendimento com Renan Calheiros.

O líder, que já presidiu o Senado, mostra grande vontade de voltar a ocupar o cargo, para recuperar a imagem, já que a primeira gestão foi marcada por desgastes políticos. Desde o início da atual legislatura, ele mantém intensa articulação com pemedebistas e com outros partidos, sempre de olho em fevereiro de 2013. Mas ainda enfrenta muita resistência, inclusive no PMDB, e, por isso, há dúvidas quanto à viabilidade política de sua candidatura.

Na quarta-feira da semana passada, o presidente nacional do PMDB em exercício, senador Valdir Raupp (RO), teve uma conversa com Lobão sobre o assunto. O ministro garantiu que não há nada acertado com a presidente sobre eventual afastamento seu do cargo. Negou qualquer acerto nesse sentido. Renan e Lobão também já tiveram uma conversa reservada sobre a sucessão de José Sarney. Segundo interlocutores, o ministro não quer reassumir a cadeira logo.

Aliados de Renan dizem que, entre os 81 senadores, o pemedebista teria quase 60 votos garantidos para sua eleição, que vai ocorrer em fevereiro de 2013.

Na bancada do PMDB, mesmo entre senadores que não gostariam que Renan fosse eleito, causa desconforto a ideia de Lobão voltar ao Senado como escolha de Dilma. Para os pemedebistas, a leitura seria que o Palácio do Planalto está interferindo no processo e, o que é pior, passando a imagem de que nenhum dos senadores do partido (são 19) tem condições de presidir a Casa.

A sucessão de Sarney pode desgastar ainda mais a relação do PMDB com a presidente, sobretudo se a sigla avaliar que continua perdendo espaço no governo. O grau de irritação é alto. Recados, insinuações de que o vice pode ser trocado na reeleição e humilhações como a que foi submetido o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura), desautorizado publicamente pela presidente a falar sobre o Código Florestal, compõem o caldo de cultura no qual pode florescer uma crise. Talvez a associação PMDB-PSDB em alguma votação.