Título: Investidores apresentam propostas ao McDonald's
Autor: Facchini, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2006, Empresas, p. B6

O McDonald's, que decidiu terceirizar suas operações na América Latina, recebeu as propostas dos fundos de "private equity" na sexta-feira noite. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a multinacional americana havia procurado pelo menos nove potenciais grupos de investidores, dos quais dois brasileiros. Mas eles não precisariam, necessariamente, apresentar uma oferta.

De acordo com um executivo próximo à operação, a idéia inicial do grupo é vender a licença para a exploração dos restaurantes com a bandeira McDonald's em bloco, ou seja, de uma só vez para a toda a América Latina. "Mas acredito que, talvez, eles tenham que desmembrar a região. Trata-se de uma área muito grande", afirma a fonte. Estima-se que o processo de análise das propostas estenda-se até o fim de setembro, quando a multinacional deve selecionar as duas ou três melhores ofertas.

Depois disso, os fundos de private equity deverão iniciar o processo de "due diligence", ou de averiguação das contas e dos ativos do grupo. Por envolver muitos restaurantes, em muitos países, essa será uma operação complexa e pode arrastar-se até dezembro, calcula uma fonte. A multinacional quer vender todas as suas lojas próprias bem como a gestão das franquias em toda a América Latina, passando apenas a receber os royalties pela concessão da marca. Os países latino-americanos, o Brasil inclusive, deixarão de ser subsidiárias integrais e adotarão o modelo de "licenças de desenvolvimento".

O anúncio de que o McDonald's havia decidido mudar seu modelo de negócio causou uma grande perplexidade no mercado brasileiro, onde a notícia teve fortes repercussões tanto no público de forma geral como entre fornecedores e analistas. Por ser um grande empregador - só no Brasil o McDonald's emprega 34 mil funcionários - há uma grande expectativa em relação aos reflexos sobre a gestão do grupo. Os novos investidores podem vir a promover cortes para melhorar os resultados.

No Brasil, o McDonald's tem um peso econômico significativo por ter sido a primeira cadeia americana de fast-food a chegar ao país, no fim dos anos 70, e pode ser a maior do setor até hoje. Quando desembarcou no mercado brasileiro, a multinacional associou-se a dois empresários, Peter Rodenbeck e Gregory Ryan.

"Ambos, no entanto, eram sócios minoritários. O que a empresa está fazendo agora é vender o controle das operações", afirma uma fonte. Para um analista, autonomia talvez seja o que um investidor precise para adequar o McDonald's à realidade brasileira, onde a concorrência com os restaurantes informais é acirrada.

"O modelo de negócio do McDonald's vem de uma época de baixa competição e altas margens de lucro. Isso não existe mais", diz um consultor. No Burger King, por exemplo, o investidor brasileiro, Luiz Batalha, consegue impor suas condições por ser o controlador do negócio. Batalha conseguiu, por exemplo, a contratação do publicitário Nizan Guanaes.

Dentro do McDonald's a mudança do modelo de negócio é vista como algo natural já que a multinacional é, na sua essência, uma rede de franquias. O número de lojas próprias no Brasil é muito elevado para os padrões do grupo americano.