Título: Expectativa é que operação americana deixe de ser deficitária apenas em 2010
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2006, Empresas, p. B8

Se você quiser saber o quanto é difícil recuperar uma fabricante de automóveis com problemas, é só olhar para a Ford. A companhia disse na sexta-feira que vai acelerar seus planos para a demissão de 14 mil funcionários administrativos, 30 mil nas linhas de montagem e fechar 16 fábricas. Além disso, informou que não espera registrar lucros em suas importantes mas deficitárias operações na América do Norte até 2009.

Para a Ford, o anúncio sinaliza um esforço redobrado para levar a companhia de volta à lucratividade e torná-la competitiva novamente. Mark Fields, presidente e diretor operacional da Ford nas Américas, disse em conferência telefônica que os problemas estão se formando pelos aumentos nos preços da gasolina, que reduziram as vendas das picapes e utilitários esportivos, além da alta dos preços de commodities usadas em peças.

"Eles têm muito trabalho pela frente na área de produto; este é o maior desafio da reestruturação", disse o analista da Standard & Poor's, Efraim Levy à agência de notícias Reuters no fim-de-semana. "Mesmo que negociem com os sindicato, se eles não estabilizarem a queda de participação no mercado nem aumentarem os volumes terão de cortar mais", acrescentou.

O anúncio representa a segunda grande reestruturação vista pela indústria automobilística dos EUA desde o começo de 2005. Acrescente os cortes feitos pela General Motors (GM), e as demissões chegam a 90 mil empregados. A Ford anunciou originalmente o plano de reestruturação "Way Forward" (Seguindo em Frente) em janeiro. O plano anunciado na sexta-feira acelera as demissões e fechamento de fábricas, ao mesmo tempo que soma mais duas à lista (Maumee Stamping em Ohio, e a de motores de Essex em Ontário, Canadá). A Ford queria concluir o fechamento das fábricas até 2012, mas agora isso foi adiantado para 2008.

Um dos problemas é que a Ford tem capacidade adicional de produção tão grande que cortes profundos não serão suficientes para colocá-la de volta rapidamente no caminho do equilíbrio dos resultados. Mesmo levando em conta os planejados fechamentos de fábricas, a Ford ainda poderá fabricar 3,6 milhões de veículos na América do Norte - mais que o necessário.

Se a participação de mercado da Ford cair para 15% conforme a administração da companhia prevê, ela vai vender apenas de 3,1 milhões a 3,2 milhões de veículos. Isso significa que fazer as fábricas da Ford trabalharem a 100% de sua capacidade - ponto ideal para a maximização dos lucros - não será fácil até 2008 e exigirá mais cortes. Fields diz: "Chegaremos a 100% da capacidade até 2010".

Aquisições de empresas representam um grande custo. A expectativa era de que as medidas originais de reestruturação iriam afetar os lucros em US$ 3,8 bilhões, com cerca de metade desse total saindo do caixa da companhia este ano.

As ações da Ford fecharam em baixa de 11,77% na sexta-feira (US$ 8,02). Nos últimos 12 meses, a queda é de 18,66%. Wall Street ficou desapontada com a perspectiva de que a empresa só volte ao lucro em 2009. Em nota, o analista do JP Morgan ,Himanshu Patel disse: "Estamos desapontados pelos comentários que sugerem que a Ford na América do Norte poderá perder dinheiro até 2008". Na verdade, Patel disse que a ação da Ford pode estar sobrevalorizada aos US$ 9. Robert Barry, analista do Goldman Sachs, disse à BusinessWeek que as perspectivas de lucro da Ford estão "piores do que as estimativas mais pessimistas".