Título: Em cúpula, Brasil e Argentina tentam destravar barreiras
Autor: Felício ,César
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2012, Brasil, p. A2

Sem muito espaço para temas comerciais na agenda, a Cúpula do Mercosul em Mendoza começa hoje com a expectativa de uma distenção na relação bilateral entre os dois principais países do bloco, Brasil e Argentina. Ontem, em uma reunião preparatória, as secretárias brasileira e argentina de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres e Beatriz Paglieri, respectivamente, fizeram um acordo para tentar destravar as barreiras comerciais ao longo das próximas semanas.

Em nome desse pacto, nos próximos sete dias os dois países acelerariam a liberação de licenças, do lado brasileiro; e da autorização para as importações, do lado argentino, de um grupo de produtos considerados "sensíveis". A Argentina facilitaria a entrada de exportações brasileiras de carne suína, calçados, máquinas agrícolas e produtos da indústria têxtil. O Brasil, por sua vez, agilizaria o processo de liberação de licenças não automáticas para as exportações argentinas de vidro, frutas, azeite de oliva e azeitona.

As duas secretárias deverão monitorar novamente a situação depois de uma semana. Caso os resultados sejam satisfatórios, outras liberações seriam feitas. O acordo entre os dois países começou a ser esboçado no início do mês, quando o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alessandro Teixeira, encontrou-se com o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno. O intercâmbio entre os dois países está em retração desde fevereiro.

No âmbito do bloco, a questão política provocada pela suspensão do Paraguai como membro pleno deve predominar no café da manhã dos chanceleres hoje e nos encontros entre os presidentes amanhã à noite e ao longo da sexta-feira. A falta de consenso sobre como proceder em relação ao país, cujo Congresso destituiu na última sexta-feira o presidente Fernando Lugo, inibe as discussões sobre o restante da agenda comum.

Dificilmente haverá definição sobre os cem produtos que deverão ser incluídos nas listas de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC), aprovada em dezembro. É pouco provável também a aprovação da proposta argentina de incluir mais 400 produtos fora do mecanismo. A ausência do Paraguai deve também colocar em segundo plano alguns temas que são estratégicos para o país, como a eliminação da dupla cobrança da TEC ou a ampliação do fundo de investimentos para infraestrutura, o Focem, do qual o Paraguai é um dos maiores beneficiários.

Os presidentes deverão divulgar declaração conjunta para uma "ação estratégica global" em comum com a China, iniciativa proposta pelo primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, que abertamente sugeriu a aproximação tendo em vista um futuro tratado de livre comércio com o bloco. A Argentina tenta articular uma missão comercial conjunta dos membros do Mercosul à China ainda este ano, mas o Brasil quer que a viagem seja apenas institucional.

O setor automotivo voltou à discussão. Técnicos do Mercosul começaram a discutir mudanças no regime automotivo comum. A tendência protecionista é forte. Nos últimos meses, o Brasil aumentou a taxação para automóveis asiáticos e reformulou o seu acordo para o setor com o México. A Argentina decidiu suspender o acerto com o governo mexicano anteontem.