Título: Governador de SE aposta em obras para reverter favoritismo de petista
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2006, Política, p. A4

Transposições de águas de diferentes formatos vão marcar a reta final da eleição para governador de Sergipe, o menor Estado brasileiro, sexto menor colégio eleitoral (1,3 milhão de eleitores). Em risco de perder a reeleição para o petista Marcelo Déda, ex-prefeito da capital, Aracaju, o governador João Alves Filho (PFL), que tenta o quarto mandato, aposta as fichas para virar o jogo nos minutos finais na inauguração de uma ponte de 1,8 mil metros e R$ 130 milhões.

Saudada como a maior ponte urbana do Nordeste, ela liga a capital ao litoral Norte do Estado, transpondo as águas do rio Sergipe que desagua no mar alguns metros adiante. O ato de inauguração está marcado para o dia 25 e a festa deverá contar com a animação do consagrado grupo baiano Chiclete com Banana, certeza de Carnaval antecipado. Paralelamente, Alves tenta convencer os eleitores que Déda é convertido de última hora ao combate a outra transposição, a do Rio São Francisco para o Nordeste Setentrional.

Na disputa pela vaga única ao Senado, a situação se inverte. A senadora licenciada Maria do Carmo (PFL), mulher do governador, lidera a disputa contra o petista José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, que tenta reconquistar um lugar que ele já ocupou (1994-2002). Aqui, a briga gira em torno de outro líquido, o petróleo. Dutra é acusado de, como presidente da Petrobras, ter levado para Pernambuco a refinaria que a estatal planeja construir em parceria com a também estatal venezuelana PDVSA.

Mostrar que o martelo da localização da refinaria foi batido quando ele já não estava na Petrobras tem adiantado pouco para Dutra. Ainda mais que sua adversária comanda, em um Estado muito pobre, a secretaria de Combate à Pobreza, "o saco de bondades", nas palavras do próprio Dutra. O petista, ajudado pelo cabo eleitoral que carrega nas costas o saco de bondades do Bolsa Família, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem tirado a diferença, mas em velocidade que pode ser insuficiente para reverter o quadro.

Na última pesquisa do Ibope, de 25 de agosto, Maria do Carmo tinha 42% das intenções de votos, contra 44% na pesquisa anterior, de 4 de agosto. Dutra subiu de 29% para 31% de uma para a outra, reduzindo a diferença de 15% para 11%. Para governador, a diferença entre Déda e Alves cresceu. O petista, chamado pelos governistas de "Mauricinho de Aracaju", por seu estilo pessoal, cresceu de 44% para 48%, aumentando as chances de ser o único petista a ganhar um governo de Estado já no primeiro turno. Alves manteve os mesmos 36%.

A esperança de João Alves na ponte ficou clara em entrevista dada ao semanário local "Jornal Cinform". Destacando a importância da ponte para o desenvolvimento do Estado, o governador citou a vitória de Joaquim Roriz em 1998 sobre o então petista Cristovam Buarque com uma arrancada na reta final, justamente após inaugurar uma ponte.

Em entrevista ao Valor , Déda minimizou as possibilidades de que a ponte venha a alterar o rumo atual da disputa. "A ponte não vai chegar. Ela está aí, é um outdoor a céu aberto", disse o ex-prefeito, ressaltando que se a obra tivesse que favorecer o governador já estaria ajudando.

Dutra, parceiro de chapa de Déda, não esconde a importância do evento inaugural, mas avalia esperançoso que sobrará muito pouco tempo de campanha para Alves capitalizar. Quanto à transposição do São Francisco, vista como prejudicial a Sergipe, por reduzir o volume de água no trecho final do rio, Déda e Dutra sustentam que há provas documentais de que sempre foram contra, apesar de ser uma das bandeiras do presidente Lula.

Se o conto de fadas de João e Maria, como são chamados na imprensa local o governador e sua mulher, vai perdurar, a dúvida é grande, mas as possibilidades de a candidata ao Senado vencer a bruxa da derrota são, sem dúvidas, maiores. Mesmo sem entregar os pontos, José Eduardo Dutra, xingado de "forasteiro" por não ser sergipano (nasceu no Rio de Janeiro), admite que a situação é difícil: "É uma eleição dura, eu sabia desde o início. Mas dá para virar".