Título: Pesquisa do PT revela que mensalão afetou 30% dos seus eleitores
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2012, Política, p. A12

Pesquisa encomendada pelo PT revelou que 70% de seus eleitores se mantiveram fiéis ao partido, apesar do mensalão. A maior preocupação da sigla, agora, são os efeitos que um mês de julgamento dos acusados terá nas eleições. O julgamento deve se tornar um grande show midiático, o que pode alterar a percepção sobre o partido, dificilmente para melhor.

A expectativa no PT é que desde antes de o julgamento começar, no dia 2 de agosto, uma quinta-feira, o tema "mensalão" será predominante no noticiário dos jornais, rádios, televisão e nas redes sociais. A partir do dia 2, então, as emissoras de televisão terão links no STF, para transmissões ao vivo, o assunto estará na internet e na mídia em geral, todos os dias. Isso certamente terá efeitos sobre a imagem do partido, em plena campanha.

Segundo a pesquisa do PT, a "cara do mensalão" é o empresário Marcos Valério, com 34% das respostas.

A percepção geral, antes da pesquisa, era de que esse personagem fosse o ex-ministro José Dirceu, apontado como o" chefe da quadrilha" dos 40 réus denunciados pelo então procurador-geral Antônio Fernando e nas alegações finais do atual chefe do Ministério Público Federal, Roberto Gurgel.

Dirceu não é o primeiro, mas vem logo a seguir na relação, com 16%. O índice é surpreendente até porque José Dirceu é, entre todos os acusados, aquele que mais se expõe publicamente na discussão do mensalão. Tanto que alguns colegas do banco dos réus chegaram a criticá-lo, em dado momento, porque consideraram que sua defesa algumas vezes era feita as custas dos outros "companheiros".

Isso ocorreria, por exemplo, quando Dirceu dizia que nem sequer exercia cargo partidário à época em que o suposto mensalão teria ocorrido, estava no governo, argumento que passava a impressão segundo a qual os que estavam no partido seriam culpados. Dirceu também parou de falar que queria a realização rápida do julgamento, como se os demais não quisessem.

O antigo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, à época (2005) o principal "vilão" do mensalão, e os demais réus aparecem com 2% ou menos na pesquisa.

Mesmo com o mensalão, o PT é citado na pesquisa analisada pela cúpula da sigla como o partido "mais honesto" do país. Ou seja, sete anos depois, o PT se apresenta ao eleitorado sem grandes prejuízos provocados pelo escândalo do mensalão, o maior ocorrido nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas o que já estava "precificado", na avaliação da cúpula partidária, deverá ser utilizado à exaustão na campanha eleitoral pelos adversários do PT.

Os petistas avaliam o que pode ser feito diante desta situação. Atualmente, por exemplo, nada impede que as imagens do julgamento sejam utilizados na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

O PT tenta elaborar uma política de redução de danos para conter prejuízos maiores na eleição de outubro, na qual o partido já não se encontra bem posicionado para a disputa nas principais capitais - atualmente, seu único candidato bem posicionado nas pesquisas, num grande colégio eleitoral, é Nelson Pellegrino, em Salvador. São Paulo ainda é uma incógnita, mesmo com o crescimento de cinco pontos de Fernando Haddad, em São Paulo, segundo pesquisa Datafolha.

A cobertura extensiva do julgamento, segundo avaliações petistas, será negativa para o partido, mesmo que alguns dos réus sejam absolvidos. A melhor hipótese seria a absolvição do ex-ministro José Dirceu, do ex-presidente da sigla José Genoino, do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, os nomes com a marca do partido, e de Delúbio Soares, cujo nome não é lembrado agora pelo eleitorado, mas que o julgamento colocará de novo em "foco".

A pesquisa tem alguns resultados heterodoxos, que deixaram "pasmos" os petistas, com o fato de uma parcela do eleitorado - pouco mais de dois dígitos - dizer que vota no PT por causa do mensalão.