Título: IP e VCP fazem troca de ativos de US$ 2 bilhões em papel e celulose
Autor: Vieira, André e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Brasil, p. A2

A International Paper (IP) e a Votorantim Celulose e Papel (VCP) devem anunciar nas próximas horas um bilionário acordo de troca de ativos. Na noite de ontem, as duas empresas finalizavam as negociações com grandes chances de concluí-las ainda na madrugada de hoje.

O que começou com a intenção da IP de desfazer-se do seu projeto de produção de celulose em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, terminou numa operação mais complexa. O Valor havia antecipado em junho que as duas empresas estavam negociando o acordo.

A VCP receberá a floresta de eucaliptos e as licenças ambientais de Três Lagoas, avaliadas em cerca de US$ 700 milhões, que pertencem à IP. Em troca, entregará à companhia americana sua maior fábrica de papel, a unidade de Luiz Antonio (SP), cujo valor é de aproximadamente de US$ 2 bilhões.

A diferença de cerca de US$ 1,3 bilhão entre o valor dos dois ativos não deve ser paga em dinheiro. Segundo apurou o Valor com pessoas a par da negociação, a IP ficará encarregada de contratar os investimentos necessários para a construção da fábrica de celulose que integra o projeto de Três Lagoas. A fábrica a ser erguida para o grupo brasileiro terá capacidade de 1,5 milhão de toneladas anuais.

Além de assumir a unidade de Luiz Antonio, que tem capacidade de produção de 350 mil toneladas por ano de papéis de imprimir e escrever, a International Paper poderá erguer ainda uma fábrica de papel próxima a Três Lagoas que receberia a matéria-prima fornecida pela VCP.

A transação reflete uma mudança de estratégia do grupo Votorantim no setor de papel e celulose. A VCP está migrando cada vez mais para a produção de celulose, uma vez que os custos de fabricação desta matéria-prima no Brasil são considerados os mais baixos do mundo.

A VCP tem planos de investimentos em uma fábrica de celulose no Rio Grande do Sul. Por outro lado, neste mês, a empresa pôs à venda sua unidade de papéis especiais em Mogi das Cruzes (SP).

Embora o grupo brasileiro sinalize a interlocutores a intenção de manter as fábricas de papel de Jacareí (SP) e a sua parte na Ripasa, alguns analistas avaliam que a preservação destes ativos perde sentido nesta nova estratégia.

O desejo da IP era viabilizar o projeto de Três Lagoas, que existia desde o fim dos anos 80 e que pertencia à Champion, comprada em 2000 pelo grupo americano. Nos últimos três anos, a IP passou a dar mais atenção ao projeto, mas a valorização do real desequilibrou o retorno previsto inicialmente para o empreendimento.

Com a reestruturação mundial do seu foco, a IP está concentrando sua atuação na produção de papéis para imprimir e escrever e embalagens. A fabricante americana vendeu à Stora Enso em agosto por US$ 410 milhões a fábrica de papel couchê Vinson, antiga Inpacel, em Arapoti (PR).

De certa forma, as estratégias de VCP e IP caminham em direções opostas e, por isso, a troca de ativos tornou-se atraente para os dois lados. No processo de consolidação mundial do setor, as empresas brasileiras devem cada vez mais concentrar-se na produção da matéria-prima.