Título: PFL compara Freud a Gregório Fortunato
Autor: Góes, Francisco e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Política, p. A6

As denúncias do suposto envolvimento do PT na compra de um dossiê contra o PSDB, para prejudicar a imagem de José Serra e Geraldo Alckmin, foram duramente atacadas pela oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seus discursos, tucanos insinuaram uso de dinheiro público no esquema e pefelistas acusaram Lula de participação indireta na irregularidade.

O senador José Jorge (PFL-PE), candidato a vice-presidente de Geraldo Alckmin, comparou ontem, em discurso no Senado, o ex-assessor da Presidência Freud Godoy - que pediu demissão após ser acusado de envolvimento com a tentativa de compra do dossiê - com Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. Para o senador, Lula estaria comprometido com o novo escândalo, por causa de sua ligação com Godoy. José Jorge afirmou que o ex-assessor "sempre foi uma espécie de fiel escudeiro de Lula desde a década de 80" e chamou a atenção para o fato, relatado pelo próprio segurança, de o presidente ter telefonado a ele ontem.

"Com tanta proximidade com o presidente, não há como negar que, mais do que ao PT, era ao presidente e para o presidente que os serviços escusos foram prestados e com o claro objetivo de tentar atingir a candidatura de Alckmin, que a cada dia aproxima-se da viabilização do segundo turno", disse.

José Jorge e o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), coordenador pefelista da campanha de Alckmin, cobraram do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, a prisão de Godoy e a divulgação da foto dos R$ 1,7 milhão.

Para os senadores da oposição, a foto não foi divulgada por questões eleitorais, ou seja, para evitar prejuízos à campanha de Lula à reeleição. Fortes ressaltou que toda denúncia publicada envolve um personagem do Palácio do Planalto. "Para mim, o PT jogou um cesto de pedras para cima e não conseguiu sair de baixo. Estão todas caindo em cima dos petistas", disse Fortes.

Da tribuna, José Jorge disse que Godoy "se prestava a pequenos favores extra-funcionais" ao presidente, assim como Fortunato em relação a Getúlio Vargas e sua família - inclusive atacar a oposição. Fortunato assumiu ter sido mandante de um atentado contra Carlos Lacerda, opositor de Vargas, no qual morreu o major da Aeronáutica Ruben Vaz. O episódio desencadeou uma crise política que resultou no suicídio de Vargas.

No caso do dossiê com fotos, fitas de vídeo e DVDs mostrando o ex-prefeito José Serra, então ministro da Saúde, em solenidade de entrega de ambulâncias em Cuiabá, o advogado Gedimar Passos disse à Polícia Federal ter recebido de uma pessoa chamada "Froude" ou "Freud" a missão de comprar o material. Passos foi preso junto com o empresário Valdebran Padilha portando R$ 1,7 milhão. O dossiê supostamente comprometeria Serra, candidato ao governo de São Paulo, com o esquema de venda superfaturada de ambulâncias, que usariam recursos incluídos no Orçamento por emendas.

Apontado como sendo a pessoa citada, Freud Godoy confirmou ter se encontrado algumas vezes com Gedimar - a quem teria sido apresentado por Jorge Lorenzetti, amigo catarinense de Lula -, mas negou envolvimento com o caso do dossiê. Pediu demissão ontem mesmo ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

O candidato a vice-presidente na chapa tucana afirmou, no discurso, ter recebido de "uma fonte muito bem informada" informações que confirmam suas suspeitas. Segundo a "fonte" de José Jorge, Godoy era dono de empresa de vigilância em São Paulo na época da morte do prefeito Celso Daniel, de Santo André, e é amigo de Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes, o "Sombra". Ele teria, inclusive, prestado depoimento à Polícia Federal de Santo André em abril de 2001.

Ainda segundo o senador, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o médico João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, teria feito referência a Freud Godoy. O médico teria ouvido de Gilberto Carvalho que um segurança "chamado Freud ou Fred" o acompanhava quando ia a São Paulo entregar dinheiro ao ex-ministro José Dirceu.

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, atacou as suspeitas levantadas contra ele. "Isso é malandragem. Mas o castigo veio em seguida. Para mim, tudo tem de ser transparente". O tucano negou qualquer tipo de envolvimento com a máfia das Sanguessugas e defendeu a apuração das acusações. "Esse é um fato mais grave ainda, porque as pessoas presas são ligadas ao PT e um dos suspeitos é funcionário da presidência, assessor particular do presidente ", atacou. "A sociedade vai dizer basta, chega, esgotou qualquer nível de possibilidade de achar que essas coisas eram pontuais, que o presidente não sabe, que não viu. São fatos reincidentes", disse Alckmin.

O candidato do PSDB insinuou que os recursos usados para a compra poderiam ser dos cofres públicos. "Os problemas que temos enfrentado na política brasileira relacionados ao PT e ao governo Lula não são fatos isolados nesse vale- tudo e ao mesmo tempo, de desvio do dinheiro público", disse ontem, depois de receber apoio da ala majoritária da igreja evangélica Assembléia de Deus. Alckmin também criticou a atuação da Polícia Federal, em não liberar imagens do dinheiro usado para a compra do dossiê. "Não era essa conduta que a polícia adotava anteriormente".

O senador Jorge Bornhausen, presidente nacional do PFL, reforçou o coro das reclamações e disse que a oposição quer que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) faça uma investigação criminal sobre o episódio do dossiê, mesmo que a Polícia Federal continue com as investigações. "Isso porque não nos merece confiabilidade o ministro da Justiça (Márcio Thomaz Bastos), que é o criminalista à serviço do presidente Lula", afirmou. Ele disse que a investigação poderá resultar em uma ação subseqüente do Ministério Público Eleitoral.

Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB, disse esperar que o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, conduza a investigação com transparência por ser um tema "muito perto do presidente da República". Ele avaliou que a situação é dramática se for considerado o episódio do dossiê e os grampos a ministros do TSE. Tanto Jereissati quanto Bornhausen negaram, porém, que exista um dossiê, já que não existem provas. "A questão é de onde veio o dinheiro e quem é o responsável", disse Jereissati. Ele disse ter confiança em Thomaz Bastos como pessoa física, mas afirmou que as pressões que o ministro sofre são muito grandes.

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