Título: Petista preso integra comitê de Lula
Autor: Góes, Francisco e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Política, p. A6

Em entrevista rápida, de menos de dez minutos, convocada ontem no início da noite para explicar a participação do PT na compra do dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, confirmou que Gedimar Passos, preso na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, é funcionário do comando de campanha de Lula à reeleição. Segundo Berzoini, Passos é subordinado a Jorge Lorenzetti - amigo e churrasqueiro do presidente - e trabalha em uma área chamada "Tratamento de Informação". O setor é responsável por sistematizar dados veiculados na imprensa e obtidos por outros meios sobre a campanha dos adversários.

Berzoini, contudo, enfatizou que o Diretório Nacional e o comando de campanha não têm qualquer relação com a compra do dossiê contra José Serra. "Não há possibilidade de qualquer insinuação sobre o envolvimento do comando de campanha nacional com o episódio. Gedimar não tinha autorização para fazer qualquer viagem em busca de informações sobre adversários".

O petista chegou a afirmar que Lorenzetti é subordinado ao comando nacional, ou seja, a ele próprio, mas disse que não conhecia Gedimar Passos. "Eu só soube que ele trabalhava neste setor no sábado (quando Gedimar já estava preso em São Paulo). Berzoini também frisou que o dinheiro envolvido na transação não é do PT e isentou a participação de Freud Godoy, assessor especial da Presidência, no caso. "O contato entre Gedimar e Freud deveu-se a um serviço de varredura encomendado no diretório estadual em São Paulo", justificou.

O presidente do PT, contudo, foi bem mais cauteloso quando questionado sobre o diretório estadual - o suposto dossiê envolve o candidato líder das pesquisas ao governo de São Paulo, José Serra, que disputa o cargo com o petista Aloizio Mercadante (SP). "Não consegui falar com o Lorenzetti hoje (ontem). Ainda não temos informações suficientes para passar a vocês", afirmou Berzoini, antes de encerrar a coletiva.

O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, demonstrou irritação quando o caso foi comparado a escândalos anteriores, nos quais petistas como José Genoino e Delúbio Soares afirmavam desconhecer as acusações e, posteriormente, foram atropelados pelo desenrolar dos fatos e provas. "Não aceitamos a tese de que este dinheiro é do PT. Todos os nossos recursos arrecadados e gastos estão contabilizados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A oposição vem, há um ano e meio, adotando essa estratégia, que não dará certo", completou Ferreira, antes de ser "resgatado" por dois seguranças do Diretório Nacional.

Mercadante, disse que está " enojado " com o episódio. Segundo ele, seria " inaceitável " comprar algum documento de forma ilícita para ser usado na campanha eleitoral. " Quero dizer que o meu sentimento com relação a esse dossiê é de quem está enojado, da mesma forma que eu estava com o estômago embrulhado com todas as denúncias referentes à Operação Sanguessuga " , afirmou. " Os fins não justificam os meios em política, nunca. "

" Quero ainda dizer que se tiver alguém de fato do PT nesse episódio, participando de um coisa tão irresponsável, que tenha pelo menos a coragem de vir a público e assumir o que fez " . Para o petista, Lula não poderia ter nenhuma relação com esse episódio porque " está com a eleição ganha " .

Mercadante disse ainda que sua candidatura não ganharia nada com esse dossiê. " Se eu perder a eleição, a minha vida política continua. Tenho um mandato de quatro anos (como senador). Posso ser ministro, pode ter possibilidade do presidente me convidar e posso ser líder do governo (no Senado). "