Título: Assessor pede demissão e nega envolvimento
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Política, p. A7

O Diário Oficial de hoje traz o pedido de exoneração de Freud Godoy, assessor especial do gabinete particular da Presidência da República, acusado de comprar dossiês contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Freud, que trabalha diretamente com Lula desde os tempos em que o presidente da República dirigia o PT, foi apontado por Gedimar Passos - que está preso na Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo - como o responsável pelo repasse de R$ 1,7 milhão para a compra de um suposto dossiê elaborado por Luiz Antonio Vedoin e Paulo Trevisan contendo fotos e fitas de vídeo de Serra ao lado de parlamentares envolvidos com a máfia das sanguessugas.

O destino de Freud no governo foi decidido durante a manhã de ontem, antes de Lula deixar o país para participar da abertura da Assembléia Geral da ONU, em Nova York. Lula ligou para Freud, preocupado com a repercussão das notícias envolvendo o assessor especial da Presidência. "O presidente me ligou, falou em quebra de confiança, disse que estava muito preocupado e perguntou o que havia de verdade na estória", afirmou Freud, em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo.

Na mesma entrevista, Freud afirmou que buscou tranqüilizar o presidente: "Eu disse: presidente, se o problema do senhor, de governo e campanha, é esse, o senhor pode pôr a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo, porque eu tenho como provar que não tenho nada a ver com isso".

As palavras de Freud, que colocou os seus sigilos bancário, fiscal e telefônico para auxiliar nas investigações, não foram suficientes para garantir-lhe a permanência no cargo. Assessores palacianos confirmam que o avião presidencial decolava quando o ex-assessor especial encaminhou seu pedido de exoneração ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse que o suposto envolvimento de Freud com a compra de um dossiê contra o ex-ministro José Serra será investigado pela Polícia Federal. "Se ele estiver envolvido, vai ser investigado, indiciado ou inocentado", afirmou. Segundo Bastos, o presidente Lula afirmou que não que acredita no envolvimento de Freud com a suposta tentativa de compra de um dossiê contra Serra. A declaração de Lula teria sido dada antes de o presidente embarcar Nova York.

Bastos afirmou que o presidente ficou "indignado" e que não "compactua com essa história de dossiê. "Não contem comigo para fazer uso desse ou esse", teria dito Lula, segundo o ministro da Justiça.

Bastos disse que a "atmosfera eleitoral" está "incendiada pela grande vantagem de Lula nas pesquisas". "Faltando 15 dias para a eleição é difícil manter a calma e a serenidade. As pessoas têm que ser investigadas. Não podem fazer jogo eleitoral".

Freud apresentou-se à Superintendência da Polícia Federal espontaneamente, por volta das 14h30 de ontem, e deixou a sede da PF às 17h20, sem falar com a imprensa. De acordo com seu advogado, Augusto Botelho, o depoimento não durou mais que 20 minutos, sendo que por cinco minutos ele teria ficado frente a frente com Passos - porém não houve o confronto de depoimentos.

O advogado do ex-assessor disse que as acusações contra seu cliente são "inverídicas e absurdas". Segundo a PF, Passos teria dito que o dinheiro veio do PT e que seu contado no partido seria alguém chamado "Freud". O ex-assessor confirmou que se encontrou com Passos, mas negou que tenham conversado sobre compra de dossiês. Segundo Freud, Gedimar seria contratado para cuidar da segurança do comitê do PT em Brasília.

Botelho confirmou o que seu cliente já havia dito sobre os contatos com Passos: que eles se conheceram por conta de um serviço a ser prestado no comitê do PT em Brasília e que eles não se encontraram mais "que algumas pouca vezes" nos últimos dias. (Com agências noticiosas)