Título: PSDB vê manobra diversionista em pacto proposto pelo presidente
Autor: Agostine, Cristiane e Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Política, p. A8

O PSDB interpretou a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de um "pacto de responsabilidade" como um lance de campanha política. Para os tucanos, Lula buscou exorcizar o efeito negativo do envolvimento de assessores do governo na compra de um dossiê contra o candidato tucano ao governo paulista, José Serra, e da suposta declaração simpática à tese do fechamento do Congresso, desmentida pelo presidente.

O candidato presidencial da sigla se recusou até a examinar o tema. "O presidente Lula disse que se pudesse fecharia o Congresso, que esse Congresso não vai votar reforma nenhuma. Tem duas coisas graves: primeiro, o desapreço pela democracia; segundo, ele não vai fazer reforma nenhuma. Não fez as reformas em quatro anos e já está justificando o motivo pelo qual não faria se fosse reeleito", disse Alckmin. Serra não quis comentar o tema. No comando da sua campanha a ordem é não comentar qualquer proposta vinda do presidente que não parta da hipótese da vitória do PSDB este ano.

A disposição do partido é de aumentar o confronto com Lula, mesmo depois da eleição. A iniciativa tucana de pedir a impugnação da candidatura de Lula no TSE visa manter o partido na oposição no próximo ano, contestando a legitimidade da provável vitória do PT em outubro.

"O Lula é muito esperto. Age da maneira como agiu contra a oposição e depois vem falar em pacto, em concertação, para neutralizar. Se não ganharmos a eleição, ficaremos na oposição", disse o deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP). Para o deputado federal Walter Feldman, ligado a Serra, a proposta ainda procurar caracterizar a reeleição como um fato consumado. "Quem propõe pacto é o vitorioso", assinalou. Segundo Feldman, na hipótese de Geraldo Alckmin vencer a disputa pela Presidência, o PT não participaria de nenhum "pacto de responsabilidade", como o proposto por Lula.

"Eu vou discutir pacto com o Lula? Isso não existe. Quero é ganhar a eleição. Quero que o Lula perca", disse irônico, o candidato a vice na chapa de Alckmin, o senador pefelista José Jorge (PE). A recusa formal em participar deste tipo de diálogo veio do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "O Lula, hoje tem que se explicar ao país sobre todos os escândalos envolvendo seu governo e seu partido. Antes, não tem a possibilidade de diálogo com ninguém, a não ser com sua corriola", disse.

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), chamou de "precipitação" a proposta de Lula. "É uma antecipação eleitoral que não está clara ainda", afirmou. Uma proposta de entendimento, disse ele, só faz sentido depois das eleições e tem de ser protagonizada por quem vencer o pleito.

O governador mineiro afirmou, que independentemente de pactos, vai defender o que está no ideário do PSDB, as reformas fundamentais para o desenvolvimento do país, como as tributária e política. "Vou defendê-las independentemente de quem estiver no governo federal."