Título: China impõe obstáculos ao investimento externo
Autor: Kurtenbach, Elaine
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Internacional, p. A13

A vida das empresas estrangeiras na China, nunca muito fácil, vem se tornando mais difícil à medida que o governo repensa suas políticas de "portas abertas", que fizeram do país um ímã para os investidores de todo o mundo.

As novas regras que forçam as agências de notícias estrangeiras a distribuir informações, fotografias e outros serviços por meio da estatal Xinhua são o exemplo mais recente de uma série de obstáculos no caminho das empresas que querem investir na China.

Nos últimos meses, Pequim impôs limites em investimentos no mercado imobiliário e apertou os controles sobre fusões e aquisições - medidas que pegaram muitos investidores desprevenidos.

Embora algumas restrições estejam sendo relaxadas por causa dos compromissos de abertura de mercado que a China assumiu ao aderir à Organização Mundial do Comércio (OMC), outras novas e mais amplas estão sendo adotadas em diversas áreas, aumentando os riscos para os investidores e aumentando as incertezas.

"Antigamente, eles queriam o capital estrangeiro. Agora, há um conservadorismo e um medo de estar vendendo demais de seus ativos", disse Bob Broadfoot, da Political and Economic Risk Consultancy, de Hong Kong.

Pequim cita várias motivações para as novas medidas, desde a necessidade de garantir a competição até o desejo de desacelerar um pouco o crescimento de certas áreas da economia.

Os líderes chineses insistem que não houve uma reversão na política de duas décadas de encorajamento do investimento estrangeiro - uma estratégia que fez da China o destino favorito para o investimento direto externo (IDE) por vários anos consecutivos, atraindo US$ 72,4 bilhões no ano passado.

"O governo chinês vai continuar com sua política de abertura para o mundo", disse o premiê Wen Jiabao, numa visita a Londres na semana passada.

Mas outros fatores estão criando também um clima mais duro para os negócios. Os baixos salários que fizeram da China uma potência na indústria de transformação estão começando a aumentar, assim como os custos de propriedade, potencialmente comendo parte dos lucros. Os custos de trabalho, de acordo com estudos, aumentam de 13% a 15% ao ano.

Mas Pequim vem se tornando mais exigente. Nos últimos meses, o governo adiou a conclusão de vários negócios.

O grupo de investimentos Carlyle está esperando há quase um ano a aprovação de sua oferta de US$ 375 milhões para a compra de 85% da estatal de maquinaria de construção Xugong.

O Citigroup está esperando há meses para fechar a compra de uma participação no Banco de Desenvolvimento de Guangdong. Autoridades bancárias do país se recusaram a comentar os relatos de que o Citigroup teria levado a melhor sobre os rivais e conseguido uma participação de 19,9% - apesar de o Citigroup ter mostrado interesse em adquirir de 40% a 50% do banco.

Em ambos os casos, os sentimentos nacionalistas agiram contra a venda de ativos para estrangeiros. Depois de a venda para o grupo Carlyle ter sido anunciada, o governo disse que o fabricante de equipamentos deveria consultar antes Pequim para vender participação a estrangeiros.

E o governo já anunciou uma série de restrições a diferentes tipos de investimentos estrangeiros em áreas diversas:

- Novas regras de fusão e aquisição, que entraram em vigor no início do mês, requerem que o Ministério do Comércio aprove os negócios envolvendo a "segurança econômica do país", uma novidade. As empresas nacionais terão obrigatoriamente de conservar o controle sobre marcas e patentes chinesas;

- Regras anunciadas em julho barram a compra por estrangeiros de imóveis que não sejam para uso próprio; além disso, requer-se agora a aprovação do governo para a transferência de propriedade para estrangeiros - restrições que Pequim diz ser para evitar a especulação;

- Há regras em discussão para limitar o crescimento de grandes cadeias de varejo estrangeiras, como a Wal-Mart, que vem se tornando uma grande presença nas cidades; e

- O governo anunciou limites em novos investimentos estrangeiros em cigarros e automóveis.

A comunidade de investidores internacionais está preocupada mesmo é como as regras, bastante vagas em suas redações, serão interpretadas pelo governo.