Título: Exportação do Brasil para os EUA cai 5% até junho, em volume
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Especial, p. A16

A quantidade de mercadorias exportadas pelo Brasil para os Estados Unidos, maior economia do planeta, está em queda. No primeiro semestre, o volume de produtos embarcados pelo país para os EUA recuou 5% na comparação com igual período de 2005, revelam dados inéditos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

A balança comercial só registrou alta de 4% nas exportações para os EUA em valores no semestre porque as empresas brasileiras reajustaram em 10% os preços dos produtos para compensar a valorização do real. As companhias cobraram mais caro, mas venderam menos, o que reflete sua perda de competitividade.

"Esse é um indicador de que os problemas com o câmbio já começaram", avalia Fernando Ribeiro, economista da Funcex. "Os efeitos aparecem mais rápido nos mercados mais difíceis". Com a valorização do câmbio, as empresas brasileiras sofrem mais no mercado americano por dois motivos: a composição da pauta exportadora e a forte concorrência com os chineses.

Os produtos manufaturados, como tecidos, móveis ou máquinas, respondem pela maior fatia das exportações do Brasil para os EUA. Esses setores são os mais afetados pela valorização do real, que encarece os custos com mão-de-obra e insumos nacionais. No primeiro semestre, o volume de mercadorias exportadas para aquele mercado caiu em vários segmentos: 9% em máquinas e tratores, 6,5% em têxtil, 9% em calçados, 14% em equipamentos eletrônicos.

O setor siderúrgico também registrou queda de 15% no volume exportado para os EUA nos primeiros seis meses do ano. Só que, nesse caso, a capacidade produtiva da indústria chegou ao limite e, mesmo com preços favoráveis, as exportações estão em queda para diversos países do mundo. A quantidade exportada de veículos também recuou expressivos 40% para o mercado americano, mas esse fenômeno já vem ocorrendo há algum tempo. O Brasil se especializou em carros compactos, que não fazem sucesso nos EUA.

Os Estados Unidos compraram US$ 1,7 trilhão do mundo em 2005. Com baixas tarifas de importação, é um dos mercados mais abertos do mundo. Vende quem tiver melhor preço e a concorrência é muito acirrada, particularmente com a China. Em regiões nas quais as empresas brasileiras possuem maior poder de barganha ou a pauta exportadora é dominada por commodities, o volume de vendas ao exterior ficou estável ou até aumentou.

O volume de mercadorias exportadas pelo Brasil para o Mercosul cresceu 3% no primeiro semestre do ano em relação a igual período de 2005. Especificamente para a Argentina, principal cliente no bloco, a alta foi de 1,9%. Destaque para o aumento de 13% na quantidade de veículos exportados para o país vizinho. Já o volume de calçados embarcado para a Argentina caiu 9% por conta de um acordo de restrição de exportações entre os setores privados.

O poder de barganha das empresas brasileiras é maior na América Latina. No Mercosul, o acordo de livre comércio é uma vantagem a mais. Os produtos chineses estão ganhando espaço nos países latino-americanos, mas o Brasil ainda consegue imprimir um ritmo de reajuste de preços maior que nos Estados Unidos. No primeiro semestre do ano em relação a igual período de 2005, as empresas brasileiras aumentaram em 13% o preço dos produtos no Mercosul. Na Argentina, a alta chegou a 15%.

A melhor performance das exportações brasileiras no último semestre foi obtida na Ásia. A região se tornou o motor do comércio global e está ávida pelas commodities brasileiras. O volume de mercadorias embarcadas pelo Brasil para os portos da Ásia cresceu 7,6% no semestre. A alta atingiu 22% nas vendas para a China. A quantidade de produtos do setor agropecuário exportada para os chineses aumentou 65% no primeiro semestre.

Já faz algum tempo que as exportações do Brasil para os EUA crescem menos do que a média, puxada para cima pela China. Em 2005, o volume de mercadorias exportadas pelo Brasil cresceu 9%. Para o mercado americano, a alta foi de apenas 1%. Em 2004, a quantidade embarcada pelo país subiu 22% no total e 7,6% para os EUA.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, avalia que é natural que isso ocorra, já que a China cresce 10% ao ano e demanda soja e minério brasileiro. Já os EUA, uma economia mais consolidada, avançou 3,5% em 2005 e deve crescer menos em 2007, após sucessivos aumentos nas taxas de juros. Para Vale, o problema é que o câmbio valorizado agrava essa diferença e começa a derrubar as vendas para os EUA, que ainda é o maior cliente do Brasil.