Título: Mercado espera PIB próximo a 0,55% no 1º tri
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2012, Brasil, p. A3

O Produto Interno Bruto (PIB) do país deve ter crescido 0,55% no primeiro trimestre, na comparação com os últimos três meses de 2011, feitos os ajustes sazonais, de acordo com a média das projeções coletadas pelo Valor Data com 11 instituições, com intervalo entre 0,5% e 0,8%. O resultado, se confirmado, marcará uma leve aceleração do nível de atividade econômica no período em relação aos últimos dois trimestres de 2011, mas deve ser insuficiente para reverter a deterioração recente das expectativas dos economistas com o crescimento deste ano. De acordo com a média das projeções coletadas com 10 instituições pelo Valor Data, o crescimento esperado para 2012, de 2,9%, deve ser apenas um pouco maior do que o observado em 2011.

A média das projeções coletadas pelo Valor Data aponta para um crescimento do PIB maior que o sugerido pelo Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), cuja variação no primeiro trimestre foi de apenas 0,15% sobre o último trimestre de 2011, também descontados os efeitos sazonais típicos do período. No último trimestre de 2011, o PIB cresceu 0,3%, após ter encolhido 0,1% sobre o terceiro, na série com ajuste sazonal, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do primeiro trimestre serão divulgados amanhã.

O grande entrave ao crescimento, afirmam economistas, não é a acomodação da demanda, já que o consumo das famílias ainda deve ter crescimento relevante neste primeiro trimestre, sempre na comparação com os últimos três meses de 2011, feitos os ajustes sazonais. A questão, dizem, é que a situação da indústria afeta a confiança dos empresários, o que os leva a adiar ou cancelar planos de ampliação da capacidade produtiva ou modernização dos parques industriais.

Para André Loes, economista-chefe do HSBC, a indústria deve ter crescido, entre janeiro e março deste ano, apenas 0,1%, sempre na comparação com o último trimestre de 2012, com ajuste sazonal. "Do ponto de vista do investimento, que tem sido muito baixo, isso é um problema porque a indústria tem um peso na composição do investimento até maior do que sua participação no PIB".

Para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil), as projeções coletadas pelo Valor Data com 9 instituições variam entre queda de 4,1% e avanço de 0,4%. Apesar da dispersão das estimativas, a média sugere uma queda de 1,26%, sempre na comparação com os últimos três meses de 2011, feitos os ajustes sazonais. No último trimestre de 2011, o indicador de investimento cresceu apenas 0,19%, após uma queda de 0,37% no terceiro trimestre, sempre considerando efeitos sazonais.

Para Alessandra Ribeiro, economista da Tendências, o crescimento da economia brasileira ficará aquém do que se previa inicialmente não apenas por causa do agravamento do cenário externo, mas também porque há uma piora da percepção em relação ao ambiente doméstico. "A intervenção do governo em determinados setores, no câmbio e nos juros também piora a percepção dos investidores, porque dificulta a antecipação de cenários", afirma Alessandra, que espera queda de 3,1% na formação de capital fixo no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o último trimestre de 2011, feitos os ajustes sazonais.

A LCA Consultores aponta o investimento como um dos fatores que contribuíram para frustrar as expectativas com o crescimento da economia neste início de ano. Outro aspecto que chama a atenção do economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges, é o desempenho do comércio exterior. "Nossas exportações estão sofrendo não só por causa da crise internacional, mas também por medidas protecionistas. A Argentina do ponto de vista do comércio mundial, é pequena, mas para nós é importante, sendo nosso terceiro maior parceiro comercial", diz Borges, que estima queda de 1,7% nas exportações brasileiras entre o quarto trimestre do ano passado e os primeiros três meses desse ano.

O outro ponto, diz Borges, da LCA, foi a acomodação da demanda das famílias. No trimestre, a consultoria projeta alta de 0,7% nessa ótica, sempre na comparação com o quarto trimestre do ano passado, feitos os ajustes sazonais. Nós últimos três meses do ano passado, o consumo das famílias cresceu 1,1%, na comparação com o trimestre anterior. Borges considera que essa perda de fôlego ocorreu por causa do aumento do comprometimento da renda, o que inibiu a demanda por crédito ao mesmo tempo em que os bancos passaram a ser mais criteriosos na concessão de empréstimos, preocupados com o efeito que o aumento dos calotes teria em seus balanços.

A visão, no entanto, não é consensual. De acordo com a média das projeções de nove instituições coletadas pelo Valor Data, o consumo das famílias aumentou 1% no primeiro trimestre - as estimativas variam de um mínimo de 0,6% a um máximo de 1,5%. Fernanda Consorte, economista do Santander, enfatiza o aumento do salário mínimo e a expansão da renda como propulsores da alta de 1,1% projetada para o consumo das famílias pelo banco no primeiro trimestre.

O reflexo também deve aparecer do lado da oferta, diz. "O crescimento deve ocorrer quase exclusivamente por causa do setor de serviços, que no primeiro trimestre deve ter ganhado um impulso relevante com a expansão da renda", afirma a economista. As vendas no varejo no conceito ampliado, que incluem veículos e material para construção, por exemplo, aumentaram 3% no primeiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais. "Se não fosse pelo setor de serviços, teríamos crescimento nulo ou até negativo no trimestre", diz Fernanda, do Santander

Alessandra, da Tendências, também enfatiza o papel do aumento do salário mínimo e do mercado de trabalho aquecido para a expansão do consumo, mas lembra que o crédito mais restrito serviu como um fator limitante para uma expansão maior. "No segundo semestre, o aumento do consumo deve ser mais forte, superior a 1% por trimestre", diz. Para os primeiro três meses, a expectativa da Tendências é de alta de 0,6%.

Para Loes, do HSBC, o consumo deve voltar a ganhar tração à medida que a inadimplência passe a ceder, mas para o investimento, o quadro é mais complicado. "O Brasil é um lugar caro para se investir", afirmou, e essa fratura ficou mais exposta com a apreciação cambial e crescimento dos salários sem contrapartida da produtividade. O número a ser divulgado na sexta-feira, avalia, poderá acentuar a alteração de humor dos investidores internacionais com o país, já que o Brasil está crescendo menos do que era esperado. Por enquanto, essa inversão pode ser percebida pelo fluxo cambial financeiro, mas pode, nos próximos meses, influenciar também a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no país.

"Os investidores começam a olhar outros países e redirecionar investimentos. Estamos vendo isso no Peru e na Colômbia, que estão sustentando taxas de crescimento mais elevadas porque é muito mais barato investir lá", pondera Alessandra, da Tendências Consultoria.

Visão distinta tem Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, gestora de recursos do Banco do Brasil. Para ele, o Brasil não está em desvantagem perante outros emergentes, embora admita que a inflação acima do centro da meta - de 4,5% ao ano - e a estagnação da produtividade possam influenciar avaliações. "Mas parte disso é fruto da conjuntura. Trabalhamos com um cenário de certa recuperação da indústria no segundo semestre, considerando uma melhora no panorama global, e isso deve promover expansão da produtividade". O economista também atribui à conjuntura a percepção de que o Brasil se tornou um país caro, com o custo de produção se expandido acima da inflação.