Título: Eletrobrás planeja ter ADR nível 2
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Empresas, p. B1

Até o final do mês a estatal Eletrobrás vai entregar toda a documentação necessária à Securities and Exchange Commission (SEC) para que seus American Depositary Receipts (ADRs) subam de patamar na Bolsa de Valores de Nova York. O objetivo ao elevar seus papéis do nível 1 para o nível 2 é impulsionar a classificação de suas ações, o que naturalmente vai possibilitar à empresa melhores condições na hora de tomar dinheiro para viabilizar seus investimentos. Ela está negociando um importante empréstimo para construção de pequenas centrais termelétricas (PCHs) em Santa Catarina.

"É como se o nosso 'rating' mudasse de patamar. Até porque temos procurado a transparência", explica José Drumond Saraiva, diretor financeiro e de relações com investidores da estatal. Com a documentação entregue ainda neste mês, o executivo espera que a operação esteja concluída até o fim do ano.

Atualmente, dos 34,2% do capital total distribuído entre Bovespa e Nova York, 7,3% são de ADRs. E o executivo adianta que essa operação não contempla uma nova emissão de papéis. No mínimo, talvez, o mercado avalie melhor o preço das ações no longo prazo.

"Elevar ADRs do nível 1 para o nível 2 traz realmente mais transparência e mais visibilidade a qualquer companhia", afirma Pedro Batista, analista de energia do Banco Pactual. Batista acredita também que, pelo fato do Nível 2 exigir um padrão contábil muito semelhante ao praticado por emprestadores de recursos, é até natural que isso crie alguma facilidade na hora de a empresa buscar financiamento no mercado.

Caso a aprovação na SEC ocorra como esperado, a Eletrobrás terá uma grande chance de comprovar os benefícios de ter ADRs nível 2. Isso porque a estatal está negociando com o banco alemão KFW um financiamento de ? 40 milhões. Os recursos, explica Saraiva, serão usados para erguer quatro PCHs no Estado de Santa Catarina. Juntas, teriam capacidade instalada de 50 megawatts.

"Estamos no processo de formalização do pedido de financiamento. Acredito que conseguiremos essa aprovação em outubro próximo", conta o diretor de relações com investidores.

Contudo, o movimento em direção a Nova York não modifica uma realidade da companhia: os dividendos atrasados que a Eletrobrás tem junto aos seus acionistas. Segundo a própria estatal, são cerca de R$ 6 bilhões de dividendos atrasados, que o diretor de relações com o mercado garante que serão equacionados.

"Temos acionistas no Brasil e no exterior. E, portanto, fizemos um estudo jurídico, mas neste momento prefiro não falar sobre prazos", afirma Drumond Saraiva.

A Eletrobrás, cuja receita líquida consolidada foi de R$ 20,8 bilhões no ano passado, é responsável por gerar 40% do total da energia elétrica brasileira. A receita operacional no primeiro semestre do ano foi de R$ 3,7 bilhões. Ela produz 37 mil MW que saem de 29 hidrelétricas, 15 térmicas e duas usinas nucleares. Além disso, a estatal possui 56,6 mil quilômetros de linhas de transmissão, o que representa mais de 60% do total do país.

A estatal, por ora, tem um plano de investimentos de R$ 4,9 bilhões formatado para este ano. Para o ano que vem, crê Drumond Saraiva, a Eletrobrás deverá gastar ao redor de R$ 5,6 bilhões. "Qualquer outro número é pura percepção de mercado", afirma o executivo.