Título: Atuação de Aécio ajuda a blindar Cabral na CPI
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2012, Política, p. A8

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com autoridades e empresas aprovou ontem a convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Mas rejeitou a ida do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).

As convocações foram aprovadas depois de uma sessão tensa, marcada por derrotas do PT em suas estratégias, defecções na base aliada da presidente Dilma Rousseff e pela atuação nos bastidores do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O tucano foi um dos articuladores de um acordo com parte do PMDB para garantir votos para a blindagem de Cabral.

Até ontem, a tese defendida pelos tucanos era que os três governadores deveriam falar na CPI. Mas conforme a ida de Perillo foi se tornando inevitável, o partido acabou aceitando seu depoimento. Tanto que o próprio governador compareceu anteontem à CPI para manifestar essa disposição.

Nesse novo cenário, o interesse dos tucanos passou a ser evitar que Perillo fosse o único governador convocado. Já os pemedebistas não queriam evitar que Cabral tivesse de comparecer. A eles também interessava retaliar o PT pela quebra do sigilo nacional da construtora Delta, aprovada na véspera.

Aécio entrou em campo e conseguiu virar votos de dois deputados tucanos, Carlos Sampaio (SP) e Domingos Sávio (MG), além do senador Cássio Cunha Lima (PB). A ele também são atribuídos os votos do PP, presidido pelo seu tio, senador Francisco Dornelles (RJ). O deputado Gladson Cameli (AC) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) votaram da mesma forma que esses tucanos: rejeitar Cabral e convocar Agnelo.

Os pepistas negam essa influência. Aécio contemporiza: "Não tive essa participação toda. Mas só avaliei que não tinha sentido vir o Marconi [Perillo] e não vir ninguém mais. E estávamos na iminência tanto dele ter o sigilo quebrado quanto ser convocado sozinho. E nas interceptações o Sérgio [Cabral] não aparece, mas o Agnelo aparece".

Na votação que convocou o petista, o determinante foi o não alinhamento de partidos da base governista da presidente Dilma Rousseff com o entendimento defendido pelo PT de não convocar o governador petista. Isso dentro de uma linha já alardeada por esses partidos: a de que seus compromissos no Congresso Nacional são com o governo, não com o PT. Daí porque votaram para Agnelo comparecer parlamentares do PDT, PP, PR PSB, PSC, PSD e PTB.

Incomodou também a esses aliados a tomada do controle da comissão pelo PT na sessão de ontem. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) fora eleito na véspera vice-presidente da CPI contra o senador Pedro Taques (PDT-MT) e assumiu a condução dos trabalhos ontem, uma vez que o senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB) se ausentou, por motivos desconhecidos. Foi auxiliado pelo relator, Odair Cunha (PT-MG).

Juntos, os dois começaram a sessão com dois objetivos. O primeiro era aprovar a quebra dos sigilos de Perillo. A reação foi grande, tanto do PSDB quanto de partidos aliados. O líder da sigla no Senado, Álvaro Dias (PR), cobrou que a quebra fosse estendida aos outros governadores. Com outra argumentação, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) pediu que nenhum governador tivesse o sigilo quebrado. "Nenhum deles se viu envolvido na organização criminosa a ponto de ter seu sigilo quebrado. Não há pertinência para quebrar o sigilo neste momento. É uma medida extremada."

O clima esquentou e até deputados da base propuseram alternativas. O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) sugeriu não votar qualquer quebra de sigilo, mas apenas a convocação dos governadores. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) apontou que a CPI pode estar se tornando um "tribunal de exceção". Os petistas, então, recuaram. "Estamos adiando essa discussão, ela não é definitiva. Não retiro nada do que disse. Em uma próxima reunião vamos analisar", disse Odair Cunha.

A segunda derrota petista foi na convocação dos governadores, algo que eles sequer queriam votar. Tentaram, então, colocar em votação um requerimento de adiamento. Houve protestos, pois havia na mesa um pedido anterior para que a votação ocorresse. Foi um segundo momento de exaltações, em que Teixeira foi inclusive acusado de "rasgar o regimento". Acabou colando em votação a forma como seriam votadas as convocações, em bloco ou individualizadas. A segunda opção venceu.

A convocação de Agnelo acabou surpreendendo a todos e quem bem definiu a sessão d e ontem foi o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS): "CPIs só avançam com bons acordos e pequenas traições. Sérgio Cabral foi beneficiado por um bom acordo. Agnelo foi vítima de pequenas traições".

Toda a movimentação ofuscou outra decisão relevante da CPI: a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Além do pedido ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que remeta à comissão informações sobre movimentações financeiras consideradas atípicas de Demóstenes e de Cachoeira.