Título: Justiça de Goiás começa a ouvir testemunhas
Autor: Magro , Maíra
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2012, Política, p. A8

A Justiça Federal em Goiânia tomará hoje os primeiros depoimentos de testemunhas na ação penal decorrente da operação Monte Carlo da Polícia Federal, que identificou uma rede de jogos de azar supostamente comandada por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

A presença do próprio Cachoeira é aguardada na sessão em que serão ouvidas quatro testemunhas de acusação e 11 de defesa, no processo que corre na 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás. A maior expectativa, no entanto, é quanto aos depoimentos de Cachoeira e de outros seis réus, marcados para amanhã.

Além de Cachoeira, outros sete réus - um deles foragido - respondem na ação penal pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato e violação de sigilo por servidores públicos. Embora a Monte Carlo tenha resultado na denúncia de 81 pessoas, o processo foi desmembrado para que os réus que estão presos preventivamente, desde 29 de fevereiro, sejam julgados com maior rapidez.

As quatro testemunhas de acusação nomeadas pelo MPF, que devem falar hoje, são agentes da PF envolvidos na Monte Carlo. Como as testemunhas chamadas por Cachoeira já foram ouvidas em outros Estados, os depoimentos da defesa serão de pessoas identificadas pelos outros réus.

Tanto procuradores do MPF quanto advogados dos acusados poderão fazer perguntas, assim como o juiz. Devido ao interesse que o caso desperta, os depoimentos foram transferidos, da sala de audiência comum, para um auditório com capacidade para cerca de 100 pessoas, no prédio da Justiça Federal em Goiânia. Depois de ouvir testemunhas e réus, o juiz dará um prazo para apresentação de alegações finais. A partir daí, emitirá sua sentença.

Ontem, na véspera das primeiras oitivas, a defesa de Cachoeira entrou com novo habeas corpus no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região pedindo a anulação do processo, com o argumento de que as escutas telefônicas da Monte Carlo teriam sido ilegais - o que anularia todas as provas derivadas delas. Os advogados defendem que não seria possível começar uma investigação por escuta telefônica com base em denúncia anônima - embora o Ministério Público defenda que a base não foi denúncia anônima, mas sim uma investigação preliminar.

A defesa de Cachoeira é liderada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. O pedido de habeas corpus será julgado a qualquer momento pelo desembargador federal Tourinho Neto, do TRF-1.

Entre os oito réus presos desde 29 de fevereiro, o MPF em Goiás classifica Cachoeira como "o grande idealizador e controlador" do grupo criminoso, que teria a palavra final na distribuição de recursos obtidos com a exploração de jogos ilegais. Lenine Araújo de Souza é apontado como responsável pelo controle contábil da organização.

O sargento da Aeronáutica aposentado Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, é acusado de obter informações sigilosas junto às forças de segurança pública. José Olímpio de Queiroga Neto, segundo a denúncia, seria responsável por autorizar, com a permissão prévia de Cachoeira, a exploração de jogos ilegais na região de domínio do grupo.

Outro denunciado é Wladimir Garcez Henrique, identificado pelo MPF como braço direito de Cachoeira na intermediação de contatos com a segurança pública de Goiás. Gleyb Ferreira da Cruz é acusado de ter auxiliado Cachoeira na aquisição de bens e remessas de dinheiro ao exterior, além repassar informações sigilosas sobre operações policiais.

Raimundo Washington de Sousa Queiroga, que está solto, é acusado de explorar jogos ilegais e participar de um esquema de pagamento de propina a policiais militares. O oitavo réu é Geovani Pereira da Silva, acusado de "centralizar o recebimento de valores arrecadados com a prática criminosa". Ele não será ouvido amanhã por estar foragido.