Título: Governo cogitou reestatizar a Telecom Italia
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Empresas, p. B3

"A situação é grave. Grave o bastante que há duas horas [ontem às 14 horas em Brasília e 19 horas na Itália] o governo foi chamado para dar explicações ao parlamento" disse ao Valor, por telefone, de Roma, o senador Eduardo Pollastri referindo-se à polêmica criada em seu país em torno da venda da Telecom Italia. Ele informou que está havendo fortes reações tanto da situação como a oposição, da mídia e da opinião pública, desde o anúncio, na segunda-feira, 11 de setembro, dos planos do presidente do conselho do grupo, Marco Tronchetti Provera, de separar a companhia em duas e de que analisaria propostas de compra da TIM. Tronchetti demitiu-se na sexta-feira.

Ontem a situação se agravou ainda mais com a informação de que o próprio governo italiano trabalhava com a proposta de compra da empresa, o que levou ao pedido de demissão de Angelo Rovati, assessor do primeiro ministro Romano Prodi. Rovati saiu declarando que ele, sem conhecimento do chefe, enviou carta à operadora com um desenho de operação em que o governo italiano compraria a companhia. Mas segundo relatou o senador, "Prodi disse que não estava sabendo de nada".

Para Eduardo Pollastri, a reestatização da Telecom Itália seria "um retrocesso". E avalia que a opinião pública não aprova que o governo italiano entre com alguma participação dentro de uma empresa que já foi privatizada. "Não faria sentido voltar a ter participação do Estado. A Telecom Italia tem uma dívida alta (superior a 40 bilhões de euros) mas que pode ser bem sustentada pois a empresa tem um patrimônio e receita muito grandes", disse.

Para o senador, outra razão da indignação generalizada se deve a declarações de Tronchetti Provera há cerca de dois anos, quando promoveu a fusão dos ativos do grupo Pirelli e Telecom Italia, que este seria o perfil adequado. Mas voltou atrás. Na avaliação do senador, uma das razões de Tronchetti ter pedido demissão foi porque se tornou insustentável reverter o que defendeu no passado.

Pollastri, que vivia no Brasil desde 1975, foi o primeiro senador eleito em abril pelos italianos (a maioria brasileira) no exterior. Ficou com uma das vagas na circunscrição da América do Sul. Ele é da coalizão de centro-esquerda que apóia Prodi. Com 73 anos, nascido em Alessandria, no norte da Itália, participa da comissão de relações exteriores do parlamento mas continuou à frente da Associação da Câmara de Comércio Brasil-Itália.

Por isso mesmo disse que é contra a Telecom Italia se desfazer da TIM Brasil. Ele informou que a imprensa italiana vem publicando que já existem negociações em torno da venda da subsidiária brasileira. "Mas nesse momento, até que o governo dê todas as explicações no parlamento, as negociações têm que parar", afirmou.

O senador Pollastri vai acompanhar de perto o imbróglio envolvendo a Telecom Italia. Mas está envolvido com vários projetos. Um deles refere-se aos planos italianos de investir em um trem de alta velocidade, ligando o Rio de Janeiro e São Paulo. Outro foco de atenção são exportações brasileiras na área têxtil. Já houve a visita de empresários italianos ao Brasil e agora será a vez de missão econômica de brasileiros das áreas de cerâmica e mecânica, além da têxtil.