Título: PSDB acusa Lula de gerar crise institucional
Autor: Taquari , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2012, Política, p. A8

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou ontem como grave a denúncia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tentado interferir no julgamento do mensalão. Principal nome do PSDB para a disputa presidencial de 2014, Aécio fez questão de frisar que "ninguém pode tudo, ninguém está acima da lei".

"Felizmente, temos no Brasil instituições muito sólidas, que não me parecem abaladas por essa crise, mas acho que é muito grave, em um momento em que um ex-presidente busca interferir numa decisão de um tribunal", disse o senador depois de participar, em Brasília, do encontro nacional dos pré-candidatos a prefeito do PSDB nas 100 maiores cidades do país.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusou Lula de pedir para adiar o julgamento do mensalão em uma conversa na qual também teria participado o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Em troca, Lula teria oferecido proteção ao ministro do Supremo na CPI do Cachoeira, que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. Cachoeira está preso sob acusação de comandar uma rede ilegal de jogos de azar.

Apesar de enfatizar a gravidade da denúncia, Aécio manifestou confiança na capacidade da Corte de julgar o caso com "isenção e de forma técnica". "Mas é um fato que, realmente, gera constrangimentos, especialmente para os aliados do ex-presidente", acrescentou o senador tucano.

Em nota, o presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), disse que a ofensiva de Lula contra o Supremo representa uma ameaça à democracia. "Vivemos um momento grave. Uma crise institucional. A democracia no Brasil está ameaçada. Lula e o PT ameaçam o STF e o procurador-Geral da República. Isso nunca aconteceu na história do país."

O deputado também afirmou que o governo e PT usam a CPI para atacar o PSDB e lançar fumaça sobre o julgamento do mensalão, previsto para ocorrer este ano.

Na mesma linha, o pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, analisou ontem que a denúncia afeta a estabilidade das instituições no Brasil.

"Está tendo problemas entre as instituições, sem dúvida nenhuma", comentou o pré-candidato tucano, ao participar de uma sabatina promovida pelo SBT e pelo portal Terra, em São Paulo. "Está tendo [uma crise institucional]. Essas coisas que estão acontecendo refletem problemas institucionais, inegavelmente", reforçou Serra.

Ao falar sobre o caso, o tucano disse que "é importante" que o Judiciário não seja pressionado. "Vamos todos trabalhar para que [o julgamento do mensalão] aconteça e que seja um julgamento isento", declarou Serra.

O pré-candidato evitou falar sobre a convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo, seu correligionário no PSDB, para falar na CPI do Cachoeira. Serra afirmou que Perillo merecia "crédito" por já ter se disposto a falar na CPI e por ter pedido à Procuradoria-Geral da República para que o investigasse. Além de Perillo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), também foi convocado.