Título: Fruticultura se diversifica no Espírito Santo
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Agronegócios, p. B12

Os pomares do Espírito Santo ganharam novas cores nesta safra. Estimulados pela instalação de indústrias de suco e processamento de frutas no Estado, produtores capixabas decidiram apostar na diversificação. As primeiras culturas implantadas foram a goiaba e o abacaxi. A partir da safra 2006/07, serão cultivados caju e pêssego.

"O café é a principal atividade agrícola, mas há uma preocupação em diversificar, e a fruticultura é a que mais emprega e gera receita o ano inteiro", afirma Dalmo Nogueira, gerente de projetos da Secretaria de Agricultura do Estado.

Ele observa que o cultivo é feito por agricultores familiares. A fruticultura emprega 50 mil pessoas e é a terceira principal atividade do agronegócio capixaba, com geração de receita de R$ 500 milhões por ano. O Estado é o sexto em produção de frutas, com 1,28 milhão de toneladas por ano. Desse total, 630 mil toneladas são de mamão. O Espírito Santo responde por dois terços das exportações da fruta.

De olho na expansão da fruticultura, a Minut Maid Mais, da Coca-Cola Company, se instalou em Linhares (ES) em 2002. Neste mês, o grupo inaugurou a expansão da fábrica, que passou de 70 milhões para 120 milhões de litros de sucos por ano. A empresa investirá R$ 150 milhões, entre 2006 e 2008, na ampliação da fábrica e no lançamento de linhas de sucos prontos.

Humberto Malard, diretor industrial, diz que 90% da polpa consumida vem de São Paulo e do Nordeste. "Nosso projeto é ampliar a participação do Espírito Santo de 10% para 80% em cinco anos", afirma. Segundo ele, em 2007, as polpas de goiaba, manga e maracujá serão fornecidas pela Trop Frutas, de Linhares.

O projeto da empresa motivou o plantio dessas culturas. Este ano, o governo do Estado investiu R$ 1 milhão na compra de 2 mil mudas de pêssego para plantio na região serrana. "Serão testadas cinco variedades para ver qual se adapta melhor às condições geográficas do Estado", afirma Dalmo Nogueira.

As sementes foram repassadas a um grupo de produtores, que cultivará 1 mil hectares. Os pomares começarão a dar frutos em 2010. Produtores do norte do Estado também iniciaram o plantio de caju. A Secretaria de Agricultura estima que serão cultivados 500 hectares da fruta.

As novas lavouras, segundo Nogueira, estão substituindo culturas menos rentáveis. A área de bananeiras, por exemplo, foi reduzida em 9 mil hectares nos últimos três anos, para 21 mil. Em seu lugar surgiram pomares de goiaba (300 hectares), maracujá (2,1 mil) e abacaxi (1,5 mil), entre outras. A expectativa é que a área com fruticultura cresça de 85 mil hectares para 95 mil em quatro anos.

Entre as novas apostas, os pomares de goiaba começaram a gerar renda. Em 2004, agricultores da Cooperativa dos Produtores Rurais de Cristal do Norte (Cristalcoop) plantaram 300 hectares de goiabeiras nos municípios de Pedro Canário, Conceição da Barra e Montanha, ao norte do Estado.

A primeira colheita acontece este ano, e os pomares produzem 160 toneladas por mês. Quando atingirem seu potencial máximo, em dois anos, produzirão 1 mil toneladas de goiabas por mês. As frutas são vendidas à empresa mineira de sucos Goody. A cooperativa também fechou parceria com a rede HortiFruti para entregar parte da produção.

"O produtor precisava ter segurança de que o projeto ia dar certo. Agora vamos plantar 1.500 hectares em três anos", afirma Octaciano de Souza Neto, cooperado e consultor da Cristalcoop.

A cooperativa também vai plantar 100 hectares de abacaxi este ano para, em 2007, atender à Trop Frutas do Brasil. A empresa foi criada pelo ex-acionista da Sucos Mais, Ricardo Tavares, e mais dois sócios. O grupo investe R$ 53 milhões na instalação de uma fábrica de polpas em Linhares. João Luiz Castanheira, presidente e sócio, diz que a meta é produzir 90 mil toneladas de polpa por ano, o que vai demandar 200 mil toneladas de frutas anualmente.