Título: FMI manda recado à China
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Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2010, Economia, p. 13

Em documento endereçado aos emergentes, Fundo pede a valorização das moedas dos países com saldo comercial positivo Ainda desvalorizado frente ao dólar, o iuan contribui para o superavit de US$ 180 bilhões do país asiático A fim de ajudar o reequilíbrio da economia global, os países emergentes com saldo positivo na balança comercial deveriam começar seriamente a permitir que suas moedas se valorizem, pediu ontem Fundo Monetário Internacional (FMI). O recado teve como destinatário a China, cuja divisa, o iuan, continua significativamente subalorizada frente ao dólar. O superavit comercial chinês em 2010, embora menor que o de 2009, deve atingir os US$ 180 bilhões. Na ausência de políticas visando a eliminação de distorções fundamentais, os desequilíbrios globais continuarão a aumentar, ameaçando as perspectivas de crescimento das economias avançadas e das emergentes, afirmou o Fundo.

Segundo o organismo, o problema não se repete em economias como a do Japão, da Grã-Bretanha e nos países da Zona do Euro, cujos representantes pedirão, na cúpula do G-20 em novembro, ações sobre o câmbio e fluxos de capitais para evitar um aprofundamento dos desequilíbrios globais. Em carta assinada pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, os integrantes do bloco alegaram que a solução não exige a imposição de metas numéricas de superavit ou deficit em conta corrente, como propôs os Estados Unidos.

Sem sucesso Já que os desequilíbrios globais são alimentados por desalinhamentos das taxas de câmbio. Em Seul (sede do próximo encontro do G-20), precisamos encontrar uma posição comum que nos permitirá progredir nas questões cambiais e de fluxo de capital e tomar as ações necessárias, destacou o documento. A esse respeito, temos apresentado uma proposta sobre como enfrentar essas questões de maneira cooperativa, sem ter que adotar metas quantitativas controversas, como as sugeridas pelos EUA. Os Estados Unidos tentaram, sem sucesso, limitar os desequilíbrios em conta-corrente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), um movimento que forçaria a China a valorizar sua moeda rapidamente.

O ministro de Finanças da Coreia do Sul, Yoon Jeung-hyun, avaliou que os líderes do G-20 devem continuar a discutir sobre o estabelecimento de metas na cúpula de novembro. Nós somos neutros na proposta de estabelecer metas de conta corrente, disse. Líderes da União Europeia estão reunidos desde ontem em Bruxelas para discutir os termos de uma mensagem conjunta a ser enviada à cúpula. Conclusões preliminares mostram que eles devem pedir aos demais países do grupo que não usem a taxa de câmbio para ganhar vantagem competitiva.

Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet gostaria que a mensagem fosse além e incluísse uma referência mais explícita às moedas. Um documento preparado para a reunião mostrou que o BCE propôs que o texto a ser enviado ao G-20 dissesse que a União Europeia quer um sistema financeiro forte e estável e que as taxas de câmbio reflitam os fundamentos econômicos.

Freio na alta do iuan O iuan atingiu ontem o menor nível em outubro frente ao dólar no mercado à vista, após o Banco Central chinês definir um ponto médio mais baixo para a moeda. A autoridade monetária do país tem indicado pontos médios mais baixos para o câmbio depois de ter surpreendido o mercado na semana passada com uma alta nos juros. Com a atual política, o BC chinês combate a especulação de que o iuan subiria sem interrupções após acumular alta de mais de 2% entre o começo de setembro e a metade de outubro.

O governo também tenta acalmar a opinião pública local, que se opõe, em grande parte, à valorização da moeda, particularmente por causa da pressão dos Estados Unidos. O BC está tendo dificuldades para criar a impressão de que há uma via de mão dupla para o mercado de câmbio, disse um operador de um banco comercial em Shenzhen. Mas, por enquanto, os movimentos do iuan em curto prazo ainda são muito afetados pela pressão externa.

Ontem, o dólar fechou a 6,6874 iuans, ante os 6,6808 da quarta-feira.

Arma japonesa O Banco do Japão manteve a taxa básica de juros entre zero e 0,1% ontem, mas alertou que poderá impulsionar seu plano de compra de US$ 61 bilhões em ativos. É uma opção forte caso as perspectivas econômicas se deteriorem de forma aguda, anunciou. O banco antecipou sua próxima reunião para logo após o encontro do BC norte-americano, o que os mercados interpretaram como indicação de que os japoneses estão preparados para agir se os Estados Unidos desencadearem forte venda de dólares.