Título: Bradesco amortiza R$ 2 bi em ágio e faz subscrição
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Finanças, p. C3

As ações preferenciais do Bradesco subiram 0,75%, ontem para R$ 73,50 e chegaram a R$ 74,30 depois que o banco anunciou a decisão de amortizar neste trimestre ágio pago em aquisições feitas no passado. O Bradesco vai amortizar de uma só vez neste trimestre R$ 2,055 bilhões em ágios. A operação vai reduzir em R$ 1,356 bilhão o resultado do banco, diminuindo a base do imposto a pagar. Mas, a dedução dessa despesa está limitado a 20% ao ano.

Para não afetar a capitalização, o Bradesco está fazendo uma subscrição particular de R$ 1,2 bilhão. Para que os atuais acionistas não sejam surpreendidos por um desembolso inesperado, o banco anunciou também que vai antecipar em igual montante o pagamento dos dividendos complementares previstos para o próximo ano.

"Excelente. A providência vai facilitar a comparação do Bradesco com seus peers internacionais", afirmou o analista do Banco Pactual, Pedro Guimarães.

Os analistas da Unibanco Corretora ressaltaram que a operação traz benefícios a longo prazo para os acionistas do Bradesco. Em relatório enviado aos clientes, os analistas lembraram que o tratamento dado ao ágio diferenciava Bradesco e o Itaú no mercado. Enquanto o Itaú sempre amortizou o ágio quando as aquisições eram concretizadas, o Bradesco preferia fazê-lo em cinco anos. Pela legislação, o ágio deve ser amortizado à medida que o investimento feito for trazendo retorno.

Mas, o Bradesco começou a sentir, segundo seu diretor de relações com investidores, Milton Vargas, que os acionistas tinham dificuldade de entender os ajustes feitos na divulgação dos resultados, especialmente porque os valores são relevantes. No primeiro semestre, por exemplo, foram amortizados R$ 434 milhões em ágio. No segundo semestre, estavam previstos mais R$ 235 milhões; em 2007 e 2008, R$ 449 milhões cada ano; em 2009, R$ 382 milhões; em 2010, R$ 348 milhões; e de 2011 a 20016, mais R$ 192 milhões - tudo isso desde que o banco não faça nenhuma nova aquisição.

Guimarães disse que os maiores questionamentos vinham dos investidores estrangeiros por causa do tratamento diferente dado ao ágio pela legislação contábil americana (US Gaap) e pela brasileira.

Os analistas da Unibanco Corretora lembraram o timing escolhido pelo Bradesco: exatamente neste trimestre, o Itaú vai amortizar cerca de R$ 2 bilhões em ágio pela compra do BankBoston. "O Bradesco está igualando o campo e tornando o terceiro trimestre um período perdido para ambos os bancos", diz o relatório da Unibanco Corretora.

Segundo o Bradesco, a operação não afetará os dividendos e juros sobre capital próprio neste ano e será positiva para os resultados futuros. Mas, a despesa terá impacto no resultado, afetando o patrimônio em R$ 1,356 bilhão líquidos. Para recompor a capitalização, o Bradesco irá propor em assembléia geral de acionistas, dia 5 de outubro, o aumento do capital social em R$ 1,2 bilhão, resultando no total de R$ 14,2 bilhões. Vargas informou que a operação reduzirá em 0,72 ponto o índice de capitalização do Bradesco, atualmente em 16,5%. Apesar de o percentual total ainda ficar confortavelmente acima do mínimo de 11% do Banco Central (BC), Vargas disse que o índice referente ao capital nível 1, atualmente de 11,37%, ficaria porém abaixo dessa marca. Daí o lançamento da subscrição.

O banco emitirá 21.818.182 ações, sendo 10.909.152 ordinárias e 10.909.030 preferenciais, ao preço de R$ 55,00 cada.

Segundo a instituição, haverá subscrição particular pelos acionistas no período de 19 de outubro a 20 de novembro, na proporção de 2,226746958% sobre a posição acionária que cada um possuir na data da assembléia. Finalmente, o banco irá antecipar a declaração e pagamento de R$ 1,391 bilhão em juros complementares e dividendos, com a finalidade de possibilitar o exercício integral da subscrição das ações a serem emitidas no aumento de capital, sem a necessidade de desembolso por parte dos acionistas. Os juros a serem pagos resultam no valor líquido de R$ 0,6667 por ação ordinária e R$ 0,7333 por ação preferencial e dividendos de R$ 0,5689 por ON e $0,6258 por PN.