Título: Estudos minimizam efeito Ásia sobre a AL
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2006, Finanças, p. C5

Os prejuízos sofridos pela América Latina devido à crescente competição com a China e a Índia têm sido largamente compensados pelas oportunidades que o avanço das duas economias asiáticas criou nos últimos anos, segundo um conjunto de estudos apresentados ontem pelo Banco Mundial (Bird).

Os economistas da instituição consideram injustificados os temores de políticos e empresários que vêem o avanço da Ásia apenas como uma ameaça para o Brasil e seus vizinhos. "O crescimento da China e da Índia não é um jogo de soma zero para os países da América latina", escreveram os autores dos estudos.

Eles observam que a expansão das duas nações asiáticas ampliou o mercado para produtos que a América Latina exporta. A China também representa fonte crescente de financiamento para investimentos na região. E a cooperação com os chineses na área científica tem enorme potencial, diz o Banco Mundial.

Além disso, apontam os estudos, fornecedores chineses e indianos tornaram-se uma fonte importante de insumos e componentes que ajudam a tornar competitivas mercadorias produzidas por indústrias na América Latina e em outros lugares.

"Em vez de responder com políticas protecionistas, a região deve adotar estratégias agressivas para aproveitar os efeitos positivos do crescimento da China e da Índia, ampliar sua participação nos mercados e fortalecer sua agenda de desenvolvimento", afirmou o economista-chefe da instituição para América Latina e Caribe, Guillermo Perry, um dos autores dos estudos.

Os economistas do banco reconhecem que alguns setores, como têxtil e máquinas elétricas e aparelhos eletrônicos, tendem a sofrer mais com a competição asiática. Mas seus cálculos sugerem que o impacto desses problemas sobre o resto da economia tem sido muito pequeno.

Na Argentina, por exemplo, eles estimam que o aumento da importação de produtos chineses entre 1991 e 2003 provocou redução de 6% na demanda por mão-de-obra. Mas no período o emprego na indústria argentina caiu 31%, em grande parte em virtude de privatizações, novas tecnologias e outros fatores.

Em vez de reclamar da concorrência da China e da Índia, países como o Brasil fariam melhor se procurassem aprender com a experiência asiática, como observou o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan num debate sobre os estudos do banco realizado ontem em Cingapura.

Para Malan, três fatores foram decisivos para o sucesso das economias asiáticas nos últimos anos: a abertura para o comércio exterior e os investimentos em infra-estrutura e educação. O ex-ministro da Economia do Peru Pedro Pablo Kuczynski, que participou do mesmo debate, apontou um quarto fator, a flexibilidade da legislação trabalhista.

Mas reproduzir o modelo asiático não é algo simples. Como lembrou a vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, Pamela Cox, países como a China têm uma situação fiscal mais confortável que a da América Latina. "Eles têm mais espaço para investir em educação e infra-estrutura", afirmou.

O Brasil e seus vizinhos têm dívidas elevadas e desequilíbrios sérios para resolver, como o déficit da Previdência Social. Outro problema é a baixa eficiência dos investimentos públicos na região. "A América Latina tem feito investimentos em educação, mas está longe de obter os resultados da Ásia", disse.