Título: Depoimento de Cachoeira é suspenso por liminar
Autor: Magro , Maíra
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2012, Política, p. A6

Uma liminar do desembargador federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, suspendeu o depoimento de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, na 11ª Vara Federal de Goiânia (GO). O depoimento dele e de outros réus e testemunhas estavam marcados para ontem e hoje, no processo criminal decorrente da operação operação Monte Carlo da Polícia Federal, que revelou um esquema de jogos ilegais com infiltrações na polícia e no poder público. Nesse processo, oito réus são acusados de crimes como corrupção, peculato e formação de quadrilha.

A liminar foi concedida na noite de quarta-feira, a pedido da defesa de Cachoeira, e comunicada ontem pela manhã. Um esquema de segurança já estava instalado na frente do prédio da Justiça Federal em Goiânia, e estudantes haviam iniciado uma manifestação no local contra o governador Marconi Perillo (PSDB-GO). Não há previsão de nova data para os depoimentos.

Ao pedir a liminar, a defesa de Cachoeira argumentou que o depoimento cerceava o direito de defesa, pois as testemunhas seriam ouvidas "antes do esgotamento de diligências" no processo. Os advogados haviam solicitado informações técnicas da Polícia Federal e das operadoras de telefonia sobre a quebra de sigilo telefônico - como duração das gravações e pessoas que usaram as senhas para ouvir os grampos. Eles alegaram que essas informações seriam essenciais para fazer perguntas às testemunhas, mas não teriam sido prestadas. A defesa de Cachoeira é liderada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. O Ministério Público Federal tem até cinco dias para pedir cassação da liminar.

Em outra alegação, a defesa citou como precedente o mensalão. Embora a Monte Carlo tenha resultado na denúncia de 81 pessoas, o processo foi desmembrado para serem julgados primeiro os oito réus presos preventivamente, desde 29 de fevereiro - a lei determina a preferência para evitar o prolongamento da prisão sem condenação.

Mas os advogados argumentaram que, como a denúncia envolve formação de quadrilha, todos os réus teriam que ser julgados ao mesmo tempo, pois o depoimento de um poderia influenciar o julgamento do outro. Foi aí que citaram o mensalão, que envolve 38 réus mas não foi desmembrado, apesar de diversos pedidos de alguns dos acusados.

Um terceiro pedido dos advogados, concedido na liminar, foi o direito de se reunirem reservadamente com Cachoeira, em sessões de no mínimo quatro horas.

Defensores de outros réus também usam uma profusão de argumentos para atrasar o processo. A defesa do ex-vereador Wladimir Garcez pede que o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, responsável pelo caso em Goiânia, seja excluído da ação, com a alegação de que teria antecipado o julgamento ao decretar a prisão preventiva.

O advogado de Gleyb Ferreira da Cruz diz que não houve tempo suficiente para preparar a defesa, devido à complexidade do caso. O advogado de Geovani Pereira da Silva, que está foragido, diz que ele não poderia ser julgado antecipadamente, já que não foi preso.