Título: Silêncio de Demóstenes leva a destempero na CPI
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2012, Política, p. A6

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) se manteve calado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com autoridades e empresas.

Demóstenes é suspeito de usar o mandato para beneficiar Cachoeira. O senador manifestou interesse em fornecer aos deputados e senadores da CPI a transcrição das mais de cinco horas de depoimento ao Conselho de Ética do Senado na terça-feira. "Prestei depoimento cuja pertinência temática é a mesma dessa comissão. Estou providenciando a degravação desse depoimento que eu fiz, bem como as notas taquigráficas. De sorte que comunico que utilizarei da faculdade prevista pela Constituição de permanecer em silêncio", disse.

Os parlamentares protestaram. "Essa conduta não contribui em nada para tudo o que temos lido e ouvido. É ruim para o Congresso ver um senador ficar calado", disse o deputado Luiz Pitman (PMDB-DF).

A tensão maior veio com a fala do deputado Silvio Costa (PTB-PE), que disse que o silêncio significava admissão de culpa. "Esse seu silêncio escreve em letras garrafais: "Eu sou integrante da quadrilha do Cachoeira, sou sim o braço legislativo do Cachoeira". O senhor disse que foi abandonado pelos amigos, mas é o contrário: foi o senhor que abandonou os amigos. O senhor apelou para Deus, disse que era carola. Mas se o céu existir o senhor não vai para o céu, porque o céu não é lugar de mentiroso nem de gente hipócrita".

O senador Pedro Taques (PDT-MT) protestou pelo tom de Costa e o clima esquentou. "Devemos obedecer a Constituição, que afirma que o cidadão, seja lá quem for, deve ser respeitado. Um parlamentar não pode tratar quem quer que seja com indignidade, não interessa quem seja o investigado. A Constituição deve tratar a todos com urbanidade."

Incomodado, Costa se levantou e foi para cima de Taques. Chegou a xingá-lo: "Você é um m.... filho da p....". Diante do tumulto, o presidente da CPI, Vital do Rego Filho (PMDB-PB), encerrou a sessão e Demóstenes deixou o local.