Título: Medida do governo beneficia Samsung
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Empresas, p. B3

Benegas, da Samsung: benefício com as mudanças no PPB, mas resultados não estão limitados à definição governamental A sul-coreana Samsung Electronics, única empresa que atualmente fabrica discos rígidos para computadores no Brasil, vem se beneficiando de uma portaria interministerial publicada em julho pelo governo federal. A empresa, que no início do ano detinha apenas 5% do mercado nacional de discos rígidos vendidos para fabricantes de computador, já vê a sua participação chegar a 25% entre essas empresas, segundo o diretor comercial de produtos digitais da Samsung, Wladimir Benegas.

Parte das razões que explicam tal crescimento está atrelada à portaria 122, editada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Isso porque, até julho passado, para ter acesso aos benefícios fiscais do Processo Produtivo Básico (PPB) de computadores, fabricantes de micros tinham que adquirir, obrigatoriamente, dois componentes produzidos no Brasil: fontes de alimentação de energia e gabinetes das máquinas. Mas a partir da portaria, manteve-se o número de dois componentes obrigatórios, mas acrescentou-se o disco rígido como uma terceira opção de produto nacional.

Resultado: os fabricantes de máquinas continuam comprando gabinetes nacionais (até porque o custo com frete, devido ao tamanho e peso do componente, inviabiliza a importação), mas parte já começa a adquirir fontes da Ásia, onde o preço desse produto é praticamente metade daquele praticado no Brasil. No lugar das fontes, entra o HD (sigla em inglês para hard disc) feito no Brasil pela Samsung, com preço bastante similar àquele do produto importado.

Nos últimos meses, os principais fabricantes de computadores, que costumavam recorrer à Samsung apenas em situações em que precisassem de pronta entrega, passaram a ter programação regular de pedidos.

Única fabricante no país, a Samsung pretende vender 2,8 milhões de discos rígidos no Brasil neste ano, volume 40% superior ao de 2005. No ano passado, a empresa cresceu 52% nessa área, mas esse resultado incluía a exportação para Argentina e Peru, o que deixou de ser feito.

"Queremos ampliar a produção nacional para 3,5 milhões de unidades em 2007", diz Benegas, acrescentando que a meta é superar um terço de participação de mercado entre os fabricantes. Para isso, a companhia investirá pelo menos US$ 2 milhões na ampliação de sua fábrica, em Manaus. Atualmente o Brasil tem a única planta de fabricação de HDs da empresa fora da Coréia.

O diretor comercial de produtos digitais da Samsung reconhece que a empresa tem se beneficiado com as mudanças no PPB, mas garante que seus resultados não estão limitados à definição governamental. "Há três meses, o preço do HD para fabricantes está 8% mais barato que aquele praticado com os distribuidores", diz Benegas. Com a redução, afirma, o valor do componente nacional praticamente se equiparou ao do produto importado. "Seria muito egoísmo da nossa parte se, nessa situação, não facilitássemos o acesso ao produto local", argumenta.

Na Itautec, onde a produção mensal de computadores de mesa alcança 25 mil unidades, cerca de 40% dos HDs usados em computadores são da Samsung. "Vemos uma possibilidade de acréscimo disso", comenta o gerente executivo comercial da Itautec Flávio Philbert. Embora sustente que a empresa não suspendeu seus pedidos de fontes nacionais, o executivo admite que "a pressão aumentou muito" entre estes fornecedores. "Eles terão que reduzir preços, rever processos ou enxugar operações."

A mesma postura é adotada pela Novadata, empresa que produz entre 7 mil e 10 mil micros por mês. "Criou-se uma outra alternativa de produto, já que antes estávamos amarrados a apenas dois componentes", defende o diretor de tecnologia da Novadata, Edelvicio Souza Júnior. "Realmente, hoje pode ser mais vantajoso comprar um HD da Samsung do que uma fonte nacional."

Para o secretário do desenvolvimento da produção do MDIC, Antonio Sergio Martins Mello, "houve um entendimento da cadeia" para a inclusão dos HDs nacionais na regra. A regra, no entanto, está em discussão, e pode ser alterada a partir de janeiro do ano que vem. "O PPB de computadores está sendo discutido agora. Há vários interesses, e tudo vai ser revisto", comentou, sem mencionar uma data para publicação das novas regras.

Enquanto ganha mercado entre as empresas nacionais, a Samsung corre para fechar acordos com fabricantes multinacionais para que estas também ampliem as aquisições do HD nacional. Além dos discos magnéticos, a empresa já produz no país monitores, celulares, aparelhos de TV e de DVD. Em 2005, a subsidiária registrou crescimento de 70% no país sob o ano anterior, com faturamento de US$ 1,2 bilhão.