Título: Exigência de margens de bancos pode aumentar
Autor: Watkins , Mary
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2012, Finanças, p. C1

Com o agravamento da crise da dívida da Espanha, os investidores estão atentos a um gatilho que poderá levar a dívida soberana para dentro do território em que o país precisará de ajuda.

O número a ser observado é a diferença entre o rendimento dos bônus de dez anos da Espanha e o de uma cesta de títulos de dívida europeus com classificação "AAA". Se o prêmio dos bônus espanhol permanecer em mais de 450 pontos-base - os papéis vêm sendo negociados acima disso desde segunda-feira e ontem estavam em 470 pontos-base. -, a situação pode se deteriorar para o governo.

O motivo é que a LCH.Clearnet, a maior câmara de compensação da Europa, pode impor margem adicionais aos bancos que usam a dívida espanhola como garantia para conceder financiamentos de curto prazo em negócios de recompra - ou "repo". Tal iniciativa poderá agravar os problemas de liquidez dos bancos. Analistas acreditam que a LCH vai aumentar a margem em alguns dias, com exigência adicional de 15%.

No passado, aumentos de margem sobre títulos de dívida da Irlanda e Portugal deixaram os mercados de bônus nervosos, ajudando a empurrar o governo irlandês para num resgate financeiro. Alguns bancos venderam bônus do governo, num esforço para levantar mais dinheiro para atender as exigências de margem, elevando ainda mais os rendimentos. Com Portugal e a Irlanda, a LCH aumentou as margens cinco dias depois de o spread ultrapassar os 450 pontos-base.

"Os custos de financiamento dos bancos espanhóis por meio da repo estão prestes a subir, possivelmente com muita rapidez. Isso é importante, principalmente porque vai aumentar a dependência do BCE ou outras fontes de financiamento da zona do euro", diz Don Smith, economista da Icap. Os aumentos de margem para Portugal e Irlanda, levaram os custos do financiamento para níveis "caros de chorar", diz ele.

Os bancos da zona do euro enfrentaram um aperto de liquidez no fim de 2012. Uma injeção de mais de € 1 trilhão do BCE no sistema bancário da zona do euro fechou o rombo para centenas de bancos da Europa, com os bancos da Espanha e Itália usando uma parte grande dos empréstimos de três anos para comprar bônus soberanos. Mas com a redução do impacto provocado pelo dinheiro do BCE e o aumento das preocupações com a Espanha, os rendimentos dos bônus soberanos deram um salto.