Título: Espumante nacional disputa o exterior
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Empresas, p. B5

Os volumes ainda são pequenos, mas as vinícolas nacionais já começam a exportar suas primeiras caixas de espumantes. A bebida brasileira enfrenta concorrentes de peso, principalmente franceses, espanhóis e italianos, que têm qualidade reconhecida e preço competitivo, mas empresas como Miolo e Salton acreditam que têm boas chances de conquistar consumidores no exterior.

"Os importadores e sommeliers que visitam o país se surpreendem com a qualidade, mas ainda estamos lutando pela aceitação dos produtos brasileiros", diz Daniel Salton, diretor comercial da vinícola. As exportações de vinho devem somar 13 mil caixas neste ano (ante 5 mil em 2005) para República Checa, Alemanha, França, Noruega e Estados Unidos. No mercado interno, cerca de 2,2 milhões de garrafas de espumantes serão vendidas (alta de 10% sobre 2005).

As vinícolas aproveitam os canais de distribuição dos seus vinhos no exterior para exportar espumantes, mas precisam se desdobrar para enfrentar o marketing e os preços de franceses, italianos, espanhóis e até argentinos, diz o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Antônio Salton.

A Miolo, por exemplo, vinha concentrando as exportações nos produtos de US$ 8 a US$ 12 por garrafa ao consumidor final. Agora, começa a entrar com algumas linhas "de combate", na faixa de US$ 5 a US$ 6, como o moscatel Terra Nova, produzido no Vale do São Francisco, principalmente para enfrentar os espumantes espanhóis e italianos mais baratos.

Maior exportadora do setor no país, a Miolo, de Bento Gonçalves (RS), embarcou há duas semanas seu primeiro carregamento para o Chile, com 16 mil garrafas do espumante "Oveja Negra" brut e demi-sec. A marca é vendida pela Via Sul, uma joint venture da vinícola brasileira com a chilena Via Wines. Até o fim do ano devem ser despachadas mais duas cargas iguais à primeira, disse o diretor de relações internacionais na empresa, Carlos Eduardo Nogueira.

"Estamos entre as três melhores regiões do mundo para a produção de espumante, junto com Champanhe, na França, e Francia Corta, na Itália", diz o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Dirceu Scottá. Segundo ele, as uvas cultivadas no Rio Grande do Sul não sofrem processo muito intenso de maturação devido às características locais de insolação e geram um vinho-base com um pouco mais de acidez, sem excesso de açúcares, o que é bom para a elaboração dos espumantes.

Em 2005, os embarques de espumantes brasileiros tipo "brut" e moscatel foram de 33 mil litros, ante 7,9 mil no ano anterior, e nos sete primeiros meses de 2006 alcançaram 10,1 mil litros. Em 2004, o volume correspondia a 5,7% das exportações de vinhos finos, mas agora a proporção já é de quase 10%, segundo a Uvibra. "No longo prazo, eu apostaria que o Brasil vai exportar mais espumantes do que vinhos", diz Scottá.

No ano passado, a Miolo exportou 43,6 mil caixas (de seis garrafas) de vinhos e espumantes para países como França, República Checa, Alemanha e Estados Unidos. Neste ano, devem ser exportadas 100 mil caixas. A fatia dos espumantes, que atualmente é de 10% sobre as vendas externas, pode chegar a 20% nos próximos cinco anos. "O mercado internacional recém está conhecendo o produto brasileiro", diz Nogueira.

Líder nas vendas domésticas do segmento, a gaúcha Salton iniciou as exportações com o embarque neste ano de 200 caixas da marca "Volpi Brut" à República Checa. Até dezembro, a empresa espera despachar outros carregamentos ao mercado checo, além de começar as vendas de outras linhas, como moscatel e reserva, para os Estados Unidos, informou o gerente de exportações Fabrício de Almeida.

Conforme a ABE, os espumantes brasileiros conquistaram quase 300 medalhas em concursos internacionais desde 2004. "Nos últimos cinco anos só perdemos para a região de Champanhe", diz Nogueira, da Miolo. Para ele, o principal desafio das vinícolas é levar ao exterior o reconhecimento que os espumantes nacionais desfrutam no país. Em 2005, por exemplo, eles supriram 66,2% do consumo doméstico de 10,2 milhões de litros. Já os vinhos brasileiros perderam feio: 36,9% contra 63,1% dos importados, em um mercado total de 59,4 milhões de litros.

A francesa Chandon não exporta e aposta no mercado interno. As vendas devem crescer 6% em 2006, em relação às 1,9 milhão de garrafas vendidas em 2005.