Título: BG planeja fornecer GNL à Petrobras
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Empresas, p. B10

A BG, uma das maiores companhias de gás do mundo, tem interesse em fornecer para a Petrobras o gás natural liqüefeito (GNL) que será importado pela estatal a partir de 2009. A BG é a única até agora que admitiu estar no páreo, apesar de outras gigantes como a Shell também estarem preparando propostas. "Não estamos envolvidos numa negociação comercial ainda. Temos mostrado à Petrobras interesse em participar. Estamos nos preparando para apresentar uma proposta nos moldes da solicitação da Petrobras", disse o presidente da BG Cone Sul, Luiz Carlos Costamilan.

Ao importar GNL pela Petrobras, o Brasil diversifica o leque de supridores de gás (hoje o insumo é importado pelo gasoduto Bolívia Brasil) para reduzir sua dependência do problemático país vizinho. A BG tem vários investimentos na América do Sul, incluindo as maiores distribuidoras do Cone Sul: Metrogás, de Buenos Aires, e Comgás, de São Paulo.

A inglesa também tem investimentos em transporte de gás (incluindo participação acionária de 9,66% no Gasoduto Bolívia Brasil e de 40% no gasoduto Cruz del Sur), blocos de exploração e de produção e controla uma unidade de regaseificação que está sendo construída, junto com sócios, em Quintero, no Chile. Trata-se do primeiro terminal de regaseificação da América do Sul, com capacidade de transformar em gás 2,5 milhões de toneladas de gás líquido por ano (mtpa), equivalentes a 9,4 milhões de metros cúbicos/dia a partir de 2010. Os sócios têm no pool de compradores a Empresa Nacional del Petróleo (Enap), a Endesa Chile e a distribuidora Metrogas, que tem o mesmo nome da sua equivalente argentina, mas controladores diferentes. No Brasil, a BG tem, junto com parceiros, tem oito blocos de exploração, sendo cinco deles em aguas profundas.

Nos próximos dois anos a empresa vai perfurar onze poços para procurar óleo e gás, sendo cinco em águas profundas. Costamilan não fala sobre previsão de investimentos, mas esses poços custam entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões, cada. "O programa confirma a visão de longo prazo e a integração do nosso negócio no país."

O executivo explica que a BG começou a se interessar por GNL no Brasil em 2003, mas lembra que na época a configuração era diferente, com o Brasil sendo uma plataforma para exportação de gás, inclusive o da Bolívia. "Em 2003 o GNL era uma saída para a ociosidade do Gasbol. Agora a visão mudou. Temos uma visão clara da necessidade de diversificação do suprimento de gás para atender o mercado brasileiro e isso passou a ser fundamental", diz o executivo.

A Petrobras vai construir dois terminais de regaseificação - no Rio e no Ceará - com capacidade de movimentar 20 milhões de metros cúbicos/dia. Os investimentos nos dos dois terminais foram estimados em US$ 180 milhões pela estatal. O valor não inclui o aluguel dos dois navios do tipo FSRU (Floating Storage and Regasification Unit), e nem o gás.

O GNL servirá para a estatal atender todas as termelétricas do país que têm contrato de gás de forma simultânea, em caso de uma crise energética. Trata-se de uma exigência do governo depois da crise do Nordeste, quando se comprovou que não havia gás suficiente para suprir todas as térmicas com contrato ao mesmo tempo.

Ao analisar o mercado local de gás natural até 2010, Costamilan acha que o Brasil tem uma situação "relativamente equacionada", se levado em conta o suprimento de gás convencional, as importações da Bolívia e o GNL que será direcionado para as térmicas se o volume de chuvas for desfavorável.

Além da BG outras companhias, cujos nomes a Petrobras não revela, estão participando da negociação. O gerente executivo de marketing e comercialização da área de gás e energia da Petrobras, Rogério Manso, disse que adiou por uma semana o prazo para recebimento das propostas de suprimento para o terminal de GNL do Nordeste, o primeiro que terá contrato. O prazo para entrega de propostas vencia na sexta-feira passada.

A aquisição da Petrobras tem moldes diferentes dos contratos habituais e por isso Manso explicou que primeiro quer fechar o contrato para o Nordeste, que é de menor volume (6 milhões de metros cúbicos/dia), para só então concluir, em 2007, o contrato de suprimento para o Sudeste. Segundo o executivo, o preço do GNL importado será indexado ao Henry Hub, no Texas, maior centro de entrega de gás dos Estados Unidos.