Título: Cresce pressão pela quebra de sigilo de Perillo
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2012, Política, p. A8

O depoimento ontem do proprietário da Faculdade Padrão, de Goiânia (GO), Walter Santiago, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com autoridades e empresas agravou a situação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), por causa da versão que Santiago deu da compra da casa do governador, diferente da apresentada pelo tucano.

De acordo com ele, o R$ 1,4 milhão da transação do imóvel foi pago em pacotes de dinheiro a Lúcio Fiúza, assessor de Perillo, e a Wladimir Garcêz, então lobista da construtora Delta. Perillo, contudo, já disse que recebeu três cheques pela venda da casa, sendo dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil. "Desconheço os cheques. Paguei em dinheiro. Se recebeu cheques, não foi de mim", disse Santiago.

Essa versão também é diferente da declarada por Garcêz na CPI. Ele afirmou ter sido o comprador da casa mas, após perceber que não conseguiria pagá-la, procurou Santiago para que ele a comprasse.

Com isso, petistas trabalham com a possibilidade de Perillo ter vendido a casa "duas vezes", sendo que, uma delas, seria para receber dinheiro de Cachoeira. "Há duas hipóteses. A primeira é de que alguém está mentido. A segunda é de que o governador recebeu duas vezes R$ 1,4 milhão tendo recebido R$ 2,8 milhões. Nós tivemos aqui hoje só um aprofundamento das contradições que essa história da casa traz", disse o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG).

Durante o depoimento, parlamentares questionaram Santiago se ele, ou o governador, estariam mentindo. Caso do deputado Silvio Costa (PTB-PE). Santiago discordou. "Eu não diria isso nunca de uma autoridade. Porém eu paguei em dinheiro. Não sei nada de cheque", afirmou o depoente. Costa rebateu: "Essa foi a melhor forma que o senhor encontrou de dizer, de forma didática, que mentiroso é o governador".

Após a sessão, ele passou a defender a quebra dos sigilos do governador. "Agora não tem mais jeito. Vai ter que quebrar", declarou. Na semana passada ele era um dos que se opuseram à votação do requerimento que quebraria os sigilos. Outros parlamentares que sustentaram essa posição na semana passada ainda estavam indecisos quanto a isso. "Há elementos para pedir, mas também há elementos para não pedir. Mas acho que o melhor mesmo é abrir, mas sem que isso pareça antecipação de juízo de valor", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

No entanto, a avaliação do PSDB é diversa. Para integrantes do partido, não houve novidades na sessão de ontem. "O depoimento de hoje [ontem] não teve nada de diferente. O governador foi um vendedor de boa fé para um comprador de boa fé. O comprador pagou em dinheiro, que acabou se transformando em cheques. Como isso aconteceu não é problema nem culpa dele", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).

A CPI ouviria também ontem a ex-chefe de gabinete de Perillo Eliane Gonçalves, acusada de ligação com Cachoeira. Entretanto, ela entregou um atestado médico em que disse estar internada devido a um "colapso nervoso".