Título: Corte de subsídios favorecerá mais o Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Agronegócios, p. B13

O Brasil é o exportador agrícola que mais vai ganhar se os Estados Unidos e a Europa aceitarem fazer amplos cortes de subsídios e tarifas na Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). A previsão é do Abare, instituto de pesquisa da Austrália, em estudo divulgado ontem pelo ministro australiano do comércio, Mark Vaile, na comemoração de 20 anos do Grupo de Cairns, coalizão de 18 países exportadores agrícolas.

Segundo o estudo, o comércio agrícola mundial poderia crescer US$ 47 bilhões (valor de 2005) dentro de dez anos, no caso de uma negociação global mais ambiciosa. Os membros do Grupo de Cairns ficariam com quase metade, ou US$ 20 bilhões, do total desse incremento de vendas.

Nesse cenário, o Brasil deverá se apropriar de quase 40% dos benefícios produzidos pela Rodada de Doha para o Grupo de Cairns. Em um quadro de maior liberalização, o valor da produção da agropecuária brasileira cresceria 11,9%; em cenário de menor abertura, a expansão seria de 2,6%. O valor da produção do Brasil está ao redor de US$ 60,5 bilhões (valor de 2005). No cenário mais favorável, o ganho seria de US$ 7,2 bilhões, e no menor seria de US$ 1,6 bilhão.

"Essa é uma razão mais que suficiente para o Brasil manter o mais alto nível de ambição possível na eliminação do subsídio que distorce o comércio e na redução das barreiras comerciais impostas por países desenvolvidos, mas também por nações em desenvolvimento", diz André Nassar, diretor do Ícone, Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais.

O cenário mais ambicioso leva em conta um acordo agrícola que soma substancial corte de tarifas e subsídios com limite em 75% na alíquota máxima e produtos sensíveis representando apenas 1% do total. As exportações com mais potencial para aumentar, com uma reforma global, são carne bovina, açúcar, complexo soja, arroz, trigo e leite em pó.

No rastro do Brasil, outros ganhadores seriam Austrália, que aumentaria o valor da produção em 4,9%, a Argentina em 5,6% e a Nova Zelândia em 11,9%.

Não está claro quando e nem mesmo se a Rodada Doha será retomada. Para haver acordo, a UE precisa aceitar uma fórmula de corte tarifário mais ambicioso e menos produtos sensíveis (que terão redução menor). Washington também é cobrada a diminuir os subsídios domésticos.

Formado em 1986, o Grupo de Cairns é uma coalizão de exportadores agrícolas formada por Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, África do Sul, Tailândia e Uruguai. Ele esponde por 25% das exportações agrícolas globais e pede ampla liberalização, bem mais do que o G-20, o grupo liderado pelo Brasil que hoje tem mais influencia nas negociações na OMC.