Título: Desembolsos de crédito rural têm queda de 7% neste início da safra
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Agronegócios, p. B14

Primeiro indicativo financeiro do ânimo dos produtores rurais brasileiros, o desembolso de crédito rural no atual ano-safra 2006/07, iniciado em julho, mostra um recuo significativo em relação ao ciclo anterior 2005/06 - que, pela primeira vez nas últimas dez safras, registrou uma queda de 3,5%.

Dados reunidos pelo Ministério da Agricultura a partir de informações dos bancos revelam uma retração de 7% na concessão de crédito rural da agricultura empresarial em julho, sobretudo nas linhas de investimento. O volume passou de R$ 2,316 bilhões para R$ 2,144 bilhões no período. O sistema do Banco Central aponta, porém, uma queda ainda maior: 12,1% em todos os créditos de custeio, comercialização e investimento. Os recursos saíram de R$ 2,47 bilhões para R$ 2,17 bilhões.

O desempenho indica uma tendência negativa para a ampliação das lavouras e novos investimentos no ano-safra. "Existem problemas localizados que devem se repetir nesta safra. Por isso, temos ficado atentos", disse o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães. O governo estima cumprir a meta de emprestar R$ 50 bilhões nesta safra aos produtores rurais. Até agora, cumpriu apenas 4%.

Pelos dados do Ministério da Agricultura, as liberações para custeio e comercialização seguem estáveis, mas o Banco Central indica uma redução de 8,9% nos créditos de custeio e de 12,5% na comercialização. Nas linhas de investimento, a Agricultura aponta queda de 39% no período, passando de R$ 466 milhões para R$ 286 milhões. O desempenho foi puxado pelo recuo de 50% no Moderfrota (máquinas) e de 62% no Moderinfra (infra-estrutura). Já os empréstimos nos fundos constitucionais caíram 24% no período, para R$ 82 milhões. Os números do Banco Central indicam uma retração de 24,2% no investimento, de R$ 672 milhões para R$ 571 milhões.

"Sempre tem muita demanda por custeio e comercialização, mas a necessidade de oferecer novas garantias limita a capacidade de obter novos créditos", avalia o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Ricardo Cotta. "O produtor ainda está carregado com as dívidas do passado e não tem perspectivas de renda para pagar as contas nesta próxima safra", afirma. Em contraste com os problemas dos médios e grandes produtores, as liberações para a agricultura familiar cresceram 22% no período.

Apresentada como solução ideal para a renegociação das dívidas dos produtores com seus fornecedores privados, a linha de crédito FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) Giro Rural registrou uma queda de 81% nos desembolsos na comparação com o mesmo período da safra anterior, passando de R$ 41 milhões para apenas R$ 8 milhões.

"Precisamos ampliar o acesso das cooperativas de crédito aos recursos dos fundos constitucionais e do FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador]", defende o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas.

A análise dos dados aponta ainda um aumento de 20% na concessão de crédito de custeio e comercialização com juros subsidiados pelo Tesouro e uma retração de 40% nos recursos a juros livres emprestados pelos bancos aos produtores agrícolas.

"Se prevalecer o modelo de definição de limites bancários, ficará comprometida a meta de governo de elevar a ampliação do crédito e a redução da taxa de juros", avalia o economista Luciano Carvalho, da CNA. Segundo ele, o método desconsidera aspectos da economia regional, a opinião dos gerentes na ponta, o potencial produtivo e a cobertura de riscos via seguro ou proteção de de preços (hedge) no mercado de opções. "As renegociações e as parcelas das dívidas passadas vão complicar os planos do governo".

Os dados do BC mostram elevação de 362% no volume de recursos que têm fonte nos recursos do Tesouro Nacional. Nas chamadas exigibilidades bancárias, a parcela de 25% que os bancos são obrigados a aplicar em crédito rural, houve um aumento de 11,4%. Os recursos dos fundos constitucionais cresceram 6%. Recuaram em 79,8% as aplicações com fonte na poupança rural, em 35,7% os desembolsoso com recursos a juros livres em 40% as liberações com fonte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).