Título: Missão empresarial quer convencer EUA a não excluir o Brasil do SGP
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Brasil, p. A2

Um grupo de empresários brasileiros está em Washington para uma nova rodada de conversas com congressistas americanos. O objetivo é convencer os Estados Unidos a não excluir o Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP), que reduz ou isenta de tarifas de importação mercadorias exportadas pelos países pobres.

Liderada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a missão empresarial se reúne com 25 parlamentares e assessores de hoje até sexta-feira. Fazem parte do grupo representantes de empresas como General Electric, General Motors, Siemens, Schuller, Caraíba Metais, Eaton, Duratex e Merck.

Uma eventual exclusão do Brasil do SGP prejudicará diferentes fabricantes de manufaturados. Segundo estudo da Fiesp, os setores que mais perdem em termos absolutos são madeira (R$ 61,6 milhões), máquinas e aparelhos (R$ 71,8 milhões), material de transporte (R$ 63,6 milhões) e metais comuns (R$ 70,9 milhões). A entidade calcula que as perdas totais para o país devem atingir US$ 386 milhões, o que significa apenas 3% dos US$ 12,8 bilhões exportados do Brasil para os EUA em 2005.

Em alguns setores, as perdas absolutas não pouco significativas, mas podem representar um problema grave para as empresas pela importância relativa do SGP. No caso de peles e couro, as vendas pelo sistema representam 86% das exportações totais do setor para os Estados Unidos. Os fabricantes de plástico e borracha também utilizam o SGP em 40% de suas vendas para os EUA.

"Qualquer diferença é sempre significativa. Uma tarifa de 2% a 3% a mais pode significar a perda do negócio ou pelo menos a redução da margem de lucro", avalia Guilherme Duque Estrada, vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O setor químico brasileiro exportou US$ 1,2 bilhão para os EUA em 2005. Desse total, 27% foram beneficiadas pelo SGP, que propiciou queda de até 6,5% nas tarifas.

Duque Estrada argumenta que os EUA não atingirão o objetivo de beneficiar países pobres, como Costa Rica, Equador, Gana ou Nigéria, se excluírem o Brasil do SGP. "Esses países não possuem indústria química", diz. Para o executivo, a perda de competitividade do Brasil favorecerá concorrentes como a China.

A avaliação do setor de móveis é a mesma. "Se os Estados Unidos criarem uma taxa para o Brasil, terão que cobrar muito mais dos chineses", afirma Domingos Rigoni, presidente da Associação Brasileiras dos Fabricantes de Móveis (Abimóvel). Segundo o executivo, o custo de produção na China é 20% mais baixo que no Brasil. Os Estados Unidos absorvem quase 20% das vendas brasileiras de móveis.

De acordo com o Sindicato da Indústria de Metais Não-Ferrosos de São Paulo (Sindicel), o setor pode perder US$ 60 milhões em exportações para os EUA se for excluído do SGP. Em 2005, os americanos importaram US$ 143 milhões de semimanufaturados de cobre e suas ligas do Brasil - 100% das operações pelo SGP.

No caso de fios e cabos, as importações chegaram a US$ 49 milhões, 73% por meio do sistema. Sérgio Aredes, presidente do Sindicel, diz que as perdas provocadas pelo eventual exclusão do Brasil não serão significativas em relação aos US$ 5 bilhões que o setor fatura no país. Ele argumenta, no entanto, que é um desestímulo para as exportações, que começaram a aumentar em 2004. "É uma janela que se fecha", diz.

Carlos Cavalcanti, diretor de comércio exterior da Fiesp, aguarda para o início de novembro uma manifestação do governo americano se o benefício do SGP será renovado ou não para o Brasil. Congressistas do Partido Republicano são contra a manutenção do Brasil no sistema e argumentam que é preciso retaliar o país por suas posições na Rodada Doha da OMC. Mas os industriais brasileiros ganharam recentemente o apoio de congressistas democratas, que propuseram a manutenção do país no sistema por mais dois anos. O prazo de vigência do Brasil no SGP expira em dezembro.