Título: Resgate espanhol expõe UE mais flexível para salvar o euro
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2012, Finanças, p. C1

O acerto para o resgate de bancos espanhóis, de até € 100 bilhões com condicionalidades limitadas, elevou expectativas de que as autoridades europeias estejam começando a adotar uma abordagem mais flexível para tratar da crise do euro. Com o resgate bilionário prometido pela União Europeia (UE), no sábado, a Espanha deverá, em seguida, acelerar a reestruturação de seu sistema bancário.

O presidente do BBVA, Francisco Gonzalez, previu em encontro de banqueiros, realizado em Copenhague (Dinamarca), que a Espanha passará a ter apenas "dois grandes bancos, um par de tamanho médio e cinco ou seis pequenos" nos próximos meses.

O socorro europeu remove uma fonte importante de incerteza, que banqueiros e autoridades não cessaram de manifestar no encontro de Copenhague.

Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol, disse ontem que o tamanho da "linha de crédito europeia", como ele define o resgate, ainda vai ser definido. O certo é que € 190 bilhões de provisões são insuficientes quando as perdas de crédito de bancos espanhóis totalizam € 250 bilhões. Para o Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade internacional dos bancos, o resgate deve ser de pelo menos € 60 bilhões.

Mesmo € 100 bilhões de recapitalização serão um montante relativamente modesto em termos de PIB, cerca de 9,5%, e podem oferecer à Espanha algum fôlego e levar os mercados a focarem mais outros aspectos positivos do país, afirma James Nixon, do Société Générale.

A avaliação é a de que a crise financeira e econômica entra em nova fase, crucial, tanto para a Espanha como para o euro.

Para analistas, a condicionalidade limitada do resgate espanhol e o custo a 3% de juros na média, bem abaixo do exigido pelo mercado, reconhece na prática que uma dose adicional de austeridade seria um desastre para a Espanha. E dá crédito ao que o país já fez como consolidação fiscal e reformas estruturais para melhorar a competitividade e as perspectivas de crescimento, algo que o mercado de bônus ignorou até agora.

Medidas como esquema de garantia de depósitos ajudariam a reduzir o custo para a Espanha apoiar a recapitalização dos bancos, e por tabela baixar o prêmio de risco da dívida soberana.

No entanto, como frisaram certos banqueiros em Copenhague, um plano forte exige mais integração europeia. E trilhar esse caminho precisa de vontade política que não existe no momento.

O mais provável é que no encontro do conselho de líderes europeus do dia 28, em Bruxelas, seja anunciado apenas um "roteiro" em direção a uma maior união fiscal e bancária. É por isso que alguns analistas consideram que o otimismo eventual do mercado sobre o resgate de bancos espanhóis pode ser de curta duração. Em Copenhague, o IIF mostrou pesquisa feita na Grécia, que aponta o partido de esquerda Sryza como possível ganhador de 150 cadeiras no Parlamento contra 130 para a aliança Nova Democracia-Socialista. Se esse cenário se concretizar no próximo domingo, vai realimentar a turbulência no mercado e os riscos de a Grécia sair do euro.

O mercado da dívida pode também ter mais agitação. Nos próximos cinco meses, a Itália precisa pagar uma média de € 30 bilhoes por mês de títulos que estão vencendo. A Itália necessita refinanciar € 440 bilhões nos próximos dois anos.