Título: Resgate para a Espanha gera alívio de curto prazo
Autor: Taylor , Paul
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2012, Finanças, p. C12

Os ministros das finanças da zona do euro pressionaram a Espanha a aceitar um resgate, bancado pela União Europeia (UE), para seus endividados bancos, com o objetivo de impedir a ameaça de uma corrida aos bancos se a crise da dívida da Grécia voltar a se intensificar. Mas um eventual alívio para Madri e o euro poderá ter vida curta.

Após semanas insistindo que a Espanha não precisava de ajuda para recapitalizar seus bancos abalados por dívidas ruins, resultantes do estouro da bolha imobiliária no país, o primeiro-ministro Mariano Rajoy foi forçado a pedir um pacote de ajuda por temer um desastre pior, informaram autoridades europeias envolvidas nas negociações.

A área do euro, que engloba 17 países, concordou em emprestar até €100 bilhões (US$ 125 bilhões) à Espanha, para o seu fundo de resgate bancário, mais que o necessário, segundo sugerido por uma auditoria inicial, numa tentativa de tranquilizar os investidores e erguer uma nova barreira de contenção contra a crise.

Mas a mais nova linha de contenção da crise na zona do euro, após os resgates da Grécia, Irlanda e Portugal, poderá ser apagada já no próximo domingo pelos eleitores gregos, reacendendo as turbulências de mercado que atingiriam primeiro Espanha e Itália.

Rajoy disse que suas reformas pouparam a Espanha de um resgate total por causa de seu endividamento público, mas alguns analistas afirmam que o socorro bancário pode ser um prelúdio de um plano de resgate para o Estado.

Após menos de seis meses no cargo, o primeiro-ministro está desesperado para evitar esse estigma, enquanto outros líderes europeus se mostraram afoitos para evitar o custo, que forçaria os fundos de resgate da zona do euro ao limite.

Erik Nielsen, economista-chefe do UniCredit, disse que assim que os bancos forem recapitalizados, "eles basicamente resolverão os três pontos mais fracos: os bancos, as regiões e a fraqueza estrutural".

"O peso de se recapitalizar bancos insolventes ou adquirir com perdas bancos solventes vai recair sobre a população espanhola", diz Karl Whelan, economista do University College de Dublin. "Por esse motivo, o anúncio desse fim de semana poderá muito bem acabar alijando a Espanha do mercado de bônus soberanos."

A quarta maior economia da zona do euro está encurralada pela recessão e o desemprego em massa, e ainda tem uma carga de dívidas nacionais e regionais para rolar no fim do ano, embora já tenha conseguido 58% das necessidades de financiamentos para 2012.

O governo ainda precisa refinanciar €47,3 bilhões em dívidas que vencem no fim do ano, com uma grande parcela no fim de outubro, e as perdulárias regiões espanholas estão com dívidas de €15,7 bilhões que vencem no segundo semestre.

"Estamos muito perto de [nos tornarmos] "junk bonds"", disse à televisão espanhola o principal economista da Intermoney em Madri, José Carlos Diez. "Nesta situação, o importante é olhar para a reação dos investidores e ver se a fuga de capital vai ser interrompida... Se o processo não parar, haverá mais problemas de financiamento e o que veremos será um resgate que começa pequeno para se transformar em grande."

A fuga de capital dos bancos espanhóis atingiu níveis recordes desde a criação do euro, com saques líquidos de €66 bilhões em março. Isso foi antes da súbita e errática nacionalização do Bankia.

Apesar de Rajoy negar que tenha sido pressionado, a Alemanha e a França, duas das principais potências da Europa, o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) insistiram para que Madri pedisse ajuda antes das eleições gerais na Grécia.

Uma autoridade graduada do governo alemão disse que Berlim alertou o governo espanhol de que se ele não pedisse ajuda para os bancos, corria o risco de ter de solicitar um socorro completo para o país mais tarde. "A Espanha está em melhor condição em um abrigo seguro", disse a autoridade, acrescentando que o "timing" antes das eleições gregas era vital.

A chanceler Angela Merkel elogiou publicamente as reformas fiscal e do mercado de trabalho implementadas por Rajoy e disse que a Espanha não precisou nenhuma medida de austeridade mais profunda em troca da ajuda.

O presidente francês François Hollande, ansiando evitar o pânico na zona do euro, no momento em que busca a maioria parlamentar nas eleições do último domingo e no próximo, também pressionou por um resgate rápido.

"A França deseja ver um acordo para resolver a situação o mais rápido possível, mas não sou o único a dizer isto", disse o ministro da Economia Pierre Moscovici horas antes da tensa teleconferência de duas horas entre os ministros das finanças no sábado.

O presidente dos Estados Unidos Barack Obama telefonou para Merkel, Hollande e outros líderes na semana passada para pedir uma ação urgente para conter a crise na zona do euro, que representa uma ameaça à recuperação americana, e por conseguinte à sua reeleição. Japão, Reino Unido, Canadá e o FMI também se manifestaram. Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA chamou a decisão de "passos concretos no caminho da união fiscal, vital para a recuperação da área do euro".

Além das pressões mundiais para a estabilização do bloco, Berlim e Paris também agiram em interesse próprio. "Se a Espanha entrar em uma situação catastrófica, pode esquecer os bancos franceses e alemães", disse Luc Frieden, ministro das Finanças de Luxemburgo à rede de televisão RTL no domingo.

Nos mercados, a tensão voltou a aumentar com o desgaste dos efeitos da injeção de € 1 trilhão pelo BCE em empréstimos baratos de longo prazo, nos bancos da zona do euro em dezembro e fevereiro.

"É como se fosse apenas uma questão de tempo antes do surgimento de mais problemas, especialmente se o crescimento continuar fraco", disse Morten Spenner, presidente-executivo da administradora de fundos de hedge International Asset Management. "Para isso, uma solução política e financeira mais holística e profunda é necessária, em vez de uma estratégia de soluções temporárias após soluções temporárias."

O presidente do BCE Mario Draghi admitiu que o mercado interbancário da Europa está "disfuncional", com muitos bancos do sul da Europa estão excluídos e totalmente dependentes do dinheiro dos bancos centrais.

Os investidores temem que se o ESM for usado para bancar o pacote espanhol, conforme prefere a Alemanha, os detentores de bônus ficarão subordinados ao fundo permanente de resgate da zona do euro e enfrentarão potenciais perdas em quaisquer reestruturações, disse Gary Jenkins da Swordfish Research.

Frieden disse que os ministros concordaram com um valor maior para a Espanha para mostrar aos mercados que podem atender a qualquer eventualidade, e ele não acredita que todo o dinheiro será usado. "Na minha opinião, os € 100 bilhões não serão usados, de modo que formamos uma margem de segurança para que se uma análise de especialistas concluir que um volume maior será necessário, ele esteja disponível."

O pacote de resgate da Espanha também teve a intenção de aliviar as pressões sobre a Itália, a terceira maior economia da zona do euro. Alguns participantes do mercado veem Roma, que tem a maior relação de endividamento depois da Grécia, mas um déficit fiscal baixo, como potencialmente a próxima da fila para um plano de socorro que a zona do euro mal poderia suportar.

"O que vai acontecer em seguida? Duzentos bilhões ou € 300 bilhões de euros para a Itália? O resgate espanhol está apenas contribuindo para a agonia", disse Nick Hocart, diretor da administradora de câmbio Xenfin em Londres.

Economistas da Citi disseram que a Itália enfrentará um aumento da dívida por um período prolongado e "quase que certamente precisará de alguma forma de intervenção do BCE (que já ajudou a Itália duas vezes), dos fundos de resgate EFSF/ESM e do FMI em algum momento".