Título: Disputa de 2014 motiva Alckmin e Kassab a buscarem aliados para Serra
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2012, Brasil, p. A10

A aliança multipartidária em torno da candidatura do ex-governador José Serra (PSDB) para a Prefeitura de São Paulo uniu, momentaneamente, dois adversários políticos: o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Gilberto Kassab (PSD). Aliados de ambos, porém, dão como provável o confronto em 2014 - e as articulações de cada um para as eleições municipais deste ano reforçam essa tese.

"Os dois estão empenhados em trazer novos partidos para a campanha de Serra, mas os acordos são todos costurados já pensando em 2014", afiança uma autoridade do PSD paulista. Se a pretensão de Alckmin é mais explícita - angariar aliados que sustentem sua candidatura à reeleição daqui a dois anos -, a de Kassab é, segundo seus pares, mais fluida. "Kassab será candidato a cargo majoritário, isso é certo. Se buscará o Senado apoiado por Alckmin ou vai peitá-lo e concorrer ao governo do Estado, ou ainda apoiar uma candidatura do PT, depende de quem "juntar mais ficha" a partir de agora. Quem tem mais aliados negocia em condições melhores lá na frente", avalia o correligionário de Kassab.

Ao atrair partidos para a aliança de Serra, Alckmin já firma compromissos para 2014. Fez isso com PP e DEM, que estão na coligação tucana e terão espaço em seu secretariado. O DEM, que comandava a Secretaria de Desenvolvimento Social até a semana passada - Rodrigo Garcia deixou o posto para ser um dos postulantes a vice na chapa de Serra - pode voltar à frente da poderosa Secretaria de Desenvolvimento Econômico, terceiro maior orçamento do governo do Estado.

O PP do ex-prefeito e hoje deputado federal Paulo Maluf, que tem a presidência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), pode ficar com a Secretaria de Habitação.

Alckmin também tenta acordo com o PTB, que, por enquanto, mantém a candidatura do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), Luiz Borges D"Urso. O governador não conseguiu convencer o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT), a desistir da candidatura, mas, com a indicação de um pedetista para a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho, garantiu o apoio do partido à sua reeleição.

O tucano ainda deu espaço no governo para PPS e PSB. Este último, no entanto, tem relações mais fortes com Kassab, que construiu uma parceria nacional com o PSB, presidido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. As investidas de Alckmin e Kassab não foram suficientes para frear a adesão do PSB à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), mas dividiram os filiados da sigla, que fizeram gestos públicos de desagravo à aliança com o petista.

Kassab foi o principal responsável por atrair PV e PR para a chapa serrista. O prefeito tem proximidade com o presidente nacional do PV, o deputado federal Luiz Penna, que foi vereador em parte de sua gestão, e com vários vereadores da sigla, que eram da ala mais ligada a Serra no PSDB e, depois de atritos com Alckmin na eleição do diretório municipal, se filiaram ao PV.

O prefeito aproveitou a insatisfação do PR com o governo federal por conta da demissão de seu presidente nacional, o senador Alfredo Nascimento (AM), do Ministério dos Transportes, para refazer sua relação com a sigla. O PR apoiou a reeleição de Kassab em 2008, mas persistia um desgaste entre as partes pelo fato de, dois anos depois, o prefeito ter se movimentado para tirar espaço da legenda na Câmara Municipal e dá-lo a aliados mais próximos. O diálogo agora melhorou com a oferta de coligação na chapa de vereadores com o PSDB e uma vaga no Tribunal de Contas do Município (TCM) para o vereador Antônio Carlos Rodrigues, um dos principais líderes do partido.

Na avaliação de integrantes do PSD, Alckmin perdeu a chance de garantir o apoio do partido em janeiro. Kassab havia proposto que o PSDB apoiasse o vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) para prefeito, com um vice tucano, e em troca garantiria adesão à reeleição de Alckmin dois anos depois. Sem confiar no prefeito, o governador deixou a proposta em banho-maria e articulou prévias no PSDB.

Kassab cansou de esperar e fez um gesto em direção ao PT, partido que sempre lhe foi oposição na capital. Ofereceu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um vice do PSD para Haddad.

Com a entrada de Serra, a adesão do PSD foi um gesto de Kassab em retribuição à confiança que o tucano mostrou em 2006, quando renunciou ao cargo de prefeito para concorrer ao governo estadual e lhe deixou no comando da maior cidade do país. "Não há mais dívida para com o PSDB, principalmente com Alckmin", diz um aliado do prefeito.

Essa aproximação do PSD com o PT, embora freada na capital, se reproduz em outras cidades. Balanço feito pelo Valor mostra que, das alianças fechadas, o PSD apoiará os petistas em pelo menos oito dos 31 municípios da região metropolitana. Terá a vice em no mínimo duas delas. Já o PSDB fez aliança com os pessedistas em apenas uma cidade, sem lhe conceder a vice.

Parte dessa aproximação é explicada pela resistência de Alckmin à criação do PSD. Kassab se apoiou no PT para dar capilaridade ao partido no Estado e tem como alguns dos principais "articuladores regionais" - nas palavras de um líder do PSD - os prefeitos petistas Luiz Marinho (São Bernardo), Emídio de Souza (Osasco) e Sebastião Almeida (Guarulhos).

Já Alckmin cedeu espaço aos aliados em cidades importantes. O PSDB abriu mão da candidatura própria para apoiar o PSB em Campinas - terceira maior população do Estado, com um milhão de habitantes -, o PPS em São Bernardo - a quarta mais populosa - e o PTB em Santo André - a sexta maior. A estratégia é exatamente oposta à de Kassab: formar frentes antipetistas para fortalecer os aliados e combater o PT na região metropolitana.