Título: Repercussão do caso preocupa candidatos petistas em São Paulo
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Política, p. A8

O temor pelos efeitos eleitorais da crise política contaminou ontem o lançamento do programa do candidato do PT ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante. Há preocupação dentro do partido com as conseqüências do envolvimento de filiados e de um assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na negociação de um dossiê contra o principal adversário do petista, o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, sobre o suposto envolvimento do tucano com a máfia dos sanguessugas. Comentava-se em rodas de militantes antes da chegada do candidato sobre o possível impacto do episódio nas pesquisas eleitorais.

Tanto Mercadante como o candidato do partido à reeleição no Senado, Eduardo Suplicy (SP), trataram do tema, procurando demarcar distância em relação aos acusados. O presidente nacional do PT, deputado federal Ricardo Berzoini, e o presidente estadual, Paulo Frateschi, não compareceram.

"Já aconteceu no PT de pessoas cometerem crimes em nome do partido. Em um partido com 800 mil filiados é impossível avaliar a todos. Ninguém pode ser protegido ou perseguido por ser petista e o caso deve ser investigado com rigor", disse o senador, procurando lembrar as suspeitas que pesam sobre a gestão de seu adversário como ministro da Saúde.

"Há fitas mostrando uma cerimônia com sanguessugas na presença do ministro, isto são graves indicadores. Eu não fui ministro da Saúde, não foi no meu governo que se liberou 70% das ambulâncias. São vários indícios tão graves quanto os apontados para parlamentares que estão com pedido de cassação do mandato", afirmou.

Mercadante procurou preservar o ex-assessor de Lula, Freud Godoy, acusado de negociar a compra do dossiê por R$ 1,7 milhão. "Ele pediu demissão, foi à Polícia Federal e se dispôs a uma acareação com o acusador. O outro se calou. É preciso cuidado para que não se cometam graves injustiças", disse.

Suplicy evitou ataques a José Serra e procurou pressionar a própria direção do partido para que tente neutralizar o impacto negativo do episódio junto à opinião pública. "Recomendo a Berzoini (o presidente do PT, Ricardo Berzoini) que instaure um processo de apuração interna. O PT precisa mostrar empenho no esclarecimento dos episódios para que não haja prejuízo para nós", disse o senador.

O candidato petista ao Senado chegou até mesmo a questionar a não exibição pela Polícia Federal do dinheiro apreendido com um dos detidos no escândalo. "Eu também gostaria de ver. Vou ligar para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e perguntar qual o problema de esconder estas notas", disse.

Na apresentação do programa de governo, não faltaram ataques à imprensa e à oposição pela repercussão do episódio. "Não vamos aceitar tratamento diferenciado da imprensa. Não é possível que nossos adversários não sejam passíveis de serem investigados. Sofremos um ataque pérfido e agora ninguém pode se levantar para investigar se a operação sanguessuga começou ou não em 1998", afirmou a candidata a vice na chapa de Mercadante, Nádia Campeão, do PCdoB, referindo-se ao ano em que José Serra assumiu o Ministério da Saúde.