Título: Contra Lula, PT é mais eficiente que FHC
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Política, p. A8

"A portaria de seu prédio deixaria entrar um sujeito daquele?" O sujeito é Freud Godoy, o ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os telejornais mostraram com barba por fazer, cigarro caído num canto da boca e olhar de descaso à saída da Polícia Federal. O personagem moveu a indignação de dois advogados que se encontraram ontem num restaurante no coração do Jardim Paulistano: "No prédio de ninguém aqui ele entraria, mas vivia na casa do presidente".

Freud Godoy precisa causar o mesmo impacto em sete milhões de eleitores (nas contas do Datafolha) - a expressiva maioria sem portaria para filtrar visitantes - para que as eleições tenham alguma chance de segundo turno. A candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa perder cinco pontos percentuais e a dos demais ganhar outros cinco para que prosperem as chances de segundo turno. Não foi isso que sinalizou o Datafolha de ontem.

A edição dos telejornais não tem sido suficientemente didática para dar começo meio e fim ao escândalo e colocar o guizo no pescoço de Lula. Resta o horário eleitoral gratuito. Pode repercutir, mas o eleitor tem preservada a noção de que o candidato dono daquele horário é uma das partes.

As pesquisas, que deverão ser quase diárias até a eleição ajudarão a monitorar o impacto do dossiê até o 1º de outubro. O que parece mais visível é o impacto do dossiê sobre a governabilidade de um eventual segundo mandato Lula.

A oposição, às vésperas de uma cisão anunciada, ganha um amálgama. O alvo do dossiê, o candidato do PSDB ao governo do Estado, José Serra, sempre foi tido como uma das pontes do lulismo com a oposição em 2007. Não bastasse o alvo errado, o primarismo estende-se ao envolvimento do círculo mais íntimo do presidente da República e um ex-chefe de gabinete de uma das pastas mais prestigiadas pelo governo - o Ministério do Trabalho. Sim, toda campanha tem dossiês, mas os melhores são aqueles produzidos para não serem usados. Muito menos por quem está jogando poeira no adversário.

O que o dossiê escancara é o velho PT paulista que não deixou Tarso Genro esquentar a cadeira na presidência do partido. Os petistas de São Paulo e suas rixas com os tucanos continuam a dar as cartas no partido do presidente da República. Seus dedicados militantes foram mais eficientes em dar à oposição um discurso uníssono contra Lula do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua famosa carta.