Título: Oposição capitaliza para ir ao 2º turno
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Política, p. A9

Em sucessivos discursos da tribuna do Senado, durante mais de quatro horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diretamente responsabilizado pela oposição na tentativa de compra de um dossiê contra candidatos do PSDB, por parte de pessoas ligadas ao PT. Para o comando político da campanha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, o novo escândalo tem potencial para levar a disputa ao segundo turno. A ordem é explorar o episódio ao máximo, expondo as relações do presidente - candidato à reeleição - com os envolvidos.

"Enquanto o governo não esclarecer à opinião pública de onde veio esse dinheiro, o presidente da República está sob seríssima suspeita de envolvimento em caso de desvio de recurso público", disse o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Segundo ele, "a República está podre".

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), acusou Lula de "patrocinar o valerioduto, o mensalão e, agora, a Operação Vedoin, para tentar liquidar com as candidaturas de Alckmin e do ex-prefeito José Serra (PSDB)", este último ao governo paulista. Bornhausen acusou o ministro Márcio Thomaz Bastos de "se mostrar sempre mais um criminalista a serviço do presidente da República do que um ministro da Justiça".

No discurso mais rude da tarde, Lula foi classificado como "rato etílico" por ACM, chamado de "hamster" por Lula, dias antes, em comício na Bahia. "Eu digo que não sou hamster, mas o presidente é um rato etílico, porque engorda com o dinheiro da Nação e com a bebida, que não pára todos os dias. Na Bahia, estava totalmente bêbado", disse o senador baiano.

Nas sucessivas manifestações da oposição - só contraditadas timidamente no início da noite pelos senadores Saturnino Braga (PT-RJ) e Sibá Machado (PT-AC) - tucanos e pefelistas criticaram o comportamento do ministro da Justiça, e cobraram dele a revelação da origem dos recursos que supostamente seriam usados na negociação do dossiê.

Para o presidente do PSDB, é dinheiro público "roubado" o encontrado com as pessoas ligadas ao PT. "Qualquer cidadão apanhado com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, sem origem, está com dinheiro roubado. Tratando-se de um membro de governo, todos os indícios levam a crer que é dinheiro roubado do governo", disse.

ACM não poupou o ministro da Justiça, de quem sempre se diz amigo. "Doutor Márcio, o senhor sabe de onde veio o dinheiro. Eu lhe quero muito bem, mas não posso ser cego. Fico triste quando um homem como vossa excelência, respeitado em todo o país, vai, dia-a-dia, perdendo a respeitabilidade porque protege um grupo de ladrões do Palácio do Planalto", disse o baiano.

O presidente do PSDB endureceu o discurso depois que o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) leu no plenário a nota na qual a revista "Época" revela ter sido procurada por Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho e responsável por um capítulo do programa de governo de Lula, com a oferta de "farta documentação" contra Serra. Bargas teria dito que o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), tinha conhecimento do encontro com a revista. "Esta Casa deve se preparar para um embate muito duro, porque a República está podre", disse Tasso.

No fim da sessão, Saturnino disse que os ataques ao presidente "apequenam" os senadores da oposição e negou qualquer "manobra de despistamento" do governo para não revelar a origem do dinheiro. A acusação partiu do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Sibá Machado rechaçou as suspeitas de participação de Lula no episódio. "Não aceitamos ganhar eleição nessa base", disse.