Título: BC vê investimento crescendo só 1% e reforça tese da 'parcimônia'
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2012, Brasil, p. A3

Os investimentos produtivos na economia brasileira deverão crescer este ano apenas 1%, expansão muito inferior à de 2011, que foi de 4,7%. A nova projeção foi divulgada ontem pelo Banco Central. Até então, a autoridade monetária previa aumento de 5% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). A forte revisão mudou também a projeção de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB). Em vez de 3,5%, o PIB deverá subir só 2,5% em 2012, informou o BC no Relatório Trimestral de Inflação.

O desempenho da economia este ano será, portanto, ainda mais fraco que o de 2011, quando o PIB aumentou 2,7%. A projeção de crescimento do consumo das famílias também recuou, de 4% para 3,5%, ao passo que a do consumo do governo foi mantida em 3,2%, na comparação com o relatório de março.

A queda das perspectivas de investimento reflete o ambiente de incerteza, reconheceu Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC. Os empresários estão mais temerosos de investir diante da crise mundial e seus reflexos no Brasil. A transmissão da crise via canal de expectativas "tem se manifestado intensamente sobre a economia real", diz o relatório. No caso dos empresários, isso afeta investimentos.

Por outro lado, o BC continua a trabalhar com a hipótese de aceleração da atividade econômica no segundo semestre. No último trimestre especificamente, o PIB estará crescendo 4% sobre igual período do ano anterior. A previsão de 2,5% está condicionada muito mais pelo desempenho passado do que pelo futuro, disse Carlos Hamilton, referindo-se principalmente ao primeiro trimestre.

Sob o ponto de vista da oferta, o pior desempenho esperado para 2012 é o da agropecuária. O setor encolherá 1,5%. A indústria de transformação, que também ajudou a puxar a projeção para baixo, não chegará a se retrair mas se expandirá apenas 0,5%. Carlos Hamilton lembrou que, no primeiro trimestre, a agropecuária já registrou retração de 8,5%, fator que pesou na nova projeção de aumento do PIB. A economia como um todo comportou-se aquém do esperado no primeiro trimestre.

A nova projeção do BC para o PIB está mais próxima da do mercado (2,18%) do que da do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vem falando em "3% a 4%".

Nesse quadro de baixo crescimento da economia, a inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em 2011 chegou a 6,5%, cai em 2012 e fecha o ano em 4,7%, muito perto do centro da meta do governo (4,5%). Em relação ao que o BC esperava em março, no entanto, a inflação projetada subiu, pois era de 4,4%.

O número leva em consideração o cenário de referência, no qual juros e câmbio são constantes. No cenário de mercado, que considera juros e câmbio estimados pelo mercado, a projeção para 2012 também subiu, de 4,5% para 4,7%.

Em ambos os cenários, a desvalorização cambial foi preponderante para o aumento da inflação projetada para 2012, disse Carlos Hamilton, lembrando que o real depreciou-se desde março. A influência do encarecimento do dólar foi basicamente sobre preços livres, pois no caso dos monitorados e administrados o impacto cambial tem-se mostrado "irrelevante", disse o diretor.

Ambos os cenários preveem que a inflação projetada voltará a subir em 2013, fechando o ano, respectivamente, em 5% e 4,9%. Mas não dá para falar em retomada de trajetória ascendente. Nos dois cenários, a inflação do IPCA medida em 12 meses oscila em torno de 5% e vai no máximo a 5,1% até junho de 2014.

O BC avalia que os riscos inflacionários derivados de descompassos entre taxas de crescimento da oferta e da demanda por bens e serviços continuaram caindo desde o relatório de março. Esse foi um dos fatores que permitiu ao Comitê de Política Monetária (Copom) fazer, desde então, dois cortes na taxa básica de juros.

O relatório aponta também "certo arrefecimento" dos riscos inflacionários decorrentes de mecanismos formais e informais de indexação de salários. A preocupação com a influência das conquistas salariais na inflação vinha sendo manifestada pela autoridade monetária há várias edições do relatório. O risco diminuiu por causa da redução da inflação acumulada em 12 meses e das perspectivas de que essa tendência se prolongue.

Quanto ao cenário externo, o Banco Central avalia que as perspectivas para o crescimento global, que já eram ruins, pioraram. A previsão de que o período de baixo crescimento mundial será "prolongado" foi reforçada pelo recrudescimento da crise na Europa.

Os cenários usados pelo BC para projetar inflação e PIB consideraram os efeitos esperados da deterioração do quadro global sobre a economia brasileira. Mas não contemplam "ruptura dos mercados financeiros", disse Carlos Hamilton.".

Ao mesmo tempo em que traz turbulências, o cenário externo é desinflacionário por causa do baixo crescimento econômico. Mesmo num ambiente desinflacionário, no entanto, o BC entende que é preciso ser comedido no processo de flexibilização da política monetária. O relatório reforça o discurso de parcimônia feito na ata da última reunião do Copom. Na ocasião, a meta de taxa Selic caiu meio ponto percentual, para 8,5% ao ano, o que representou um arrefecimento do ritmo de corte da taxa básica de juros. As duas reduções anteriores tinham sido de 0,75 ponto percentual cada uma. A parcimônia é necessária pela defasagem temporal com que as decisões sobre juros fazem efeito na economia.