Título: Caem custos para setor elétrico
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2006, Finanças, p. C1

As empresas do setor elétrico, exibindo balanços bem melhores, estão de volta ao mercado de dívida buscando alongar prazos e reduzir custos. Afetado pelo racionamento em 2001 e desvalorização cambial em 2002/2003, o setor é um dos últimos a melhorar o perfil do endividamento.

Do total de R$ 7,8 bilhões de emissões de debêntures em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 35%, ou R$ 2,8 bilhões, são de energéticas.

A maior delas entrou ontem na CVM, R$ 1 bilhão da Energia Paulista Participações S.A., empresa controlada pela AES Corp e BNDES, com prazo provavelmente superior a 5 anos. A emissão será coordenada pelo Itaú BBA. A empresa é uma subsidiária da Brasiliana, companhia que tem participação do BNDES desde a reestruturação da dívida da AES com o banco, em 2003.

"As empresas estão saindo de linhas bancárias de alto custo para emitir debêntures, agora que os balanços estão bem mais sólidos", diz o vice-presidente do Itaú BBA, Jean-Marc Eitlin.

"Depois da crise de liquidez no período pós-racionamento, as empresas agora estão alongando o prazo e reduzindo custos num momento posterior a outros setores, que iniciaram esse processo em 2003", afirma João Teixeira, diretor do ABN AMRO, que está coordenando uma operação da empresa PCH, fornecedora de equipamentos para termoelétricas. Depois do racionamento, muitas empresas que tinham alta alavancagem em dólar sofreram com o descasamento durante a crise de 2002.

"A previsibilidade dos reajustes tarifários do novo modelo do setor elétrico deu mais estabilidade à geração de caixa", afirma o diretor de rankings industriais da Standard & Poor's. Marcelo Costa observa que a administração financeira das companhias também está mais conservadora. A dívida total das empresas analisadas pela agência caiu de R$ 42,3 bilhões em 2003 para R$ 36,5 bilhões. Algumas empresas capitalizaram-se com emissões de ações no ano passado.

A melhora dos indicadores reflete-se no rating médio das companhias. Em 2003, a maior parte das empresas (38%) tinha rating nacional BBB+ pela S&P, e 13%, CCC. Só 13% tinham nota A.

Hoje a situação é inversa: 38% têm classificação A+, 11% A e 17% BBB+. Apenas 6% ainda estão em situação muito ruim (CCC).

As empresas de distribuição estão usando as emissões de debêntures principalmente para alongamento e redução de custos do passivo. Hoje a participação da indexação ao dólar caiu muito no total do endividamento das distribuidoras. Entre as geradoras, já há alguns projetos de investimento sendo financiados no mercado de capitais.

Procuradas, algumas empresas preferiram não comentar por causa de exigências do período de silêncio durante as operações. A Ampla (antiga Cerj), que emitirá R$ 370 milhões com vencimento em 2012 a um teto de 108,5% do CDI, explicita no prospecto quais são dívidas que estão sendo trocadas. São vários empréstimos bancários vencendo entre 2006 e 2010, alguns em IGP-M mais 11,75% ao ano. Nos contratos indexados ao CDI, a companhia paga hoje de um ponto percentual acima até 3,25. Pela taxa atual, a companhia trocaria empréstimos com custo de 15,15% a 17,4% ao ano para algo em torno de 15,35%.

O endividamento de curto prazo da Ampla (controlada pela empresa espanhola Endesa) cairá à metade com a nova emissão, de R$ 323 milhões para R$ 164,5 milhões. O endividamento total de R$ 1,2 bilhão ficará 80% concentrado no longo prazo. Praticamente não há mais risco cambial: segundo a S&P, apenas US$ 25 milhões estão expostos à variação do dólar. A dívida total sobre Ebitda (resultado antes de juros, impostos, dividendos e amortização) é de 2,47 vezes. A liquidez foi influenciada pela decisão dos acionistas de não distribuir dividendos desde 2001.

A Cemig vendeu em junho R$ 400 milhões com vencimento em 2014 à taxa de IGP-M mais 10,5% ao ano. A agência de risco Moody's colocou a nota da empresa em revisão para possível elevação em agosto. Segundo fontes de mercado, a Copel(distribuidora do Paraná) deve pagar 104% do CDI em sua emissão de R$ 600 milhões por 5 anos.

A Energisa (Grupo Cataguazes-Leopoldina, controlador das empresas Energipe, de Sergipe, Celb e Saelpa, da Paraíba) está emitindo R$ 350 milhões em papéis com vencimento em 5 anos. A emissão foi classificada como risco A- pela Fitch Ratings. A dívida da companhia é de 3,3 vezes seu Ebtida. (Com IFR Markets)