Título: Perillo troca acusações com o relator da CPI
Autor: Bitencourt , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2012, Política, p. A6

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse ontem que o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG), não tem assumido uma postura isenta na função que ocupa.

"O Odair Cunha tem que agir como relator isento. Ele não pode ser cabo de chicote de ninguém", afirmou o governador ao ser questionado sobre os desdobramentos das acusações feitas ontem pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni. Na quarta-feira, Cunha chegou a dizer que, cada vez mais, fica evidente que a campanha eleitoral de Perillo para o governo de Goiás foi financiada com dinheiro do "crime organizado".

O jornalista, que prestou serviços à campanha de Perillo, reafirmou em seu depoimento ter recebido R$ 40 mil do governador tucano.

Perillo evitou comentar as acusações feitas ontem pelo jornalista, em entrevista concedida depois de participar de cerimônia de um projeto de trem de média velocidade que ligará Brasília a Anápolis e Goiânia, na sede da Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT).

Segundo ele, "são todos assuntos repetitivos" já contemplados nas nove horas de seu depoimento na CPI do Cachoeira.

Ontem foi dia do depoimento de Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que confirmou à CPI do Cachoeira ter recebido por duas ocasiões o ex-diretor do braço no Centro-Oeste da construtora Delta Cláudio Abreu "para tratar de assuntos de interesse do Distrito Federal". Abreu foi preso em operação da Polícia Civil do DF.

A empresa mantinha contratos no Distrito Federal para prestação de serviços na área de limpeza urbana. Segundo Monteiro, nessas audiências, também estava presente o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, que teria se apresentado como representante da Delta. Dadá é acusado de montar um esquema de arapongagem e de integrar o grupo criminoso de Carlinhos Cachoeira.

Em seu depoimento inicial, Monteiro negara ter recebido recursos por suposta interferência em nomeações de cargos no DF. O aliado do governador atribuiu ao que chamou como "tentativa de obter prestígio", referências a seu nome em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal na operação Monte Carlo, que investigou suposto esquema de corrupção comandado por Cachoeira.

O ex-chefe de gabinete se eximiu de eventual responsabilidade em relação a pessoas que tenham usado seu nome para receber recursos irregulares, durante a campanha eleitoral em que foi candidato à Câmara Legislativa do Distrito Federal. "Eu não posso afastar essa hipótese. Se isso ocorreu foi sem meu consentimento, sem a minha aceitação", disse.

Monteiro confirmou ter nomeado Marcello Lopes para a Casa Militar do Distrito Federal, mas disse desconhecer "atos que ele possa ter praticado" em uma suposta participação no grupo de Cachoeira. Para Monteiro, a nomeação se deu em razão da necessidade de proteção pessoal contra ameaças que teria recebido. A função de segurança fora ocupada por apenas 15 dias por Lopes.

Depois de ter protagonizado no dia anterior um bate-boca com Luiz Carlos Bordoni, o deputado tucano Carlos Sampaio (SP) elogiou a postura de Cláudio Monteiro, que, mesmo protegido por um habeas corpus, que concede o direito de permanecer em silêncio, decidiu responder às questões dos integrantes da CPI.

"Hoje, eu diria que vossa senhoria sai daqui com a cabeça erguida, que a postura de vossa senhoria é a que se espera de alguém que tenha caráter", disse Carlos Sampaio a Cláudio Monteiro. Em resposta, o aliado de Agnelo devolveu um agradecimento emocionado.