Título: BC reconhece que economia crescerá menos que em 2011
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Fonte: Valor Econômico, 29/06/2012, Opinião, p. A14

Apesar do caminhão de estímulos que o governo vem despejando na economia desde agosto, o Banco Central (BC) teve que endossar a previsão do mercado de que o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer neste ano menos do que em 2011. No Relatório de Inflação ontem divulgado, o BC reduziu a estimativa de crescimento da economia neste ano para 2,5%, menos, portanto, dos já pífios 2,7% de 2011.

A nova previsão embute um corte de um ponto em relação aos 3,5% projetados nos relatórios de dezembro e de março. Mas, para analistas, o BC ainda está otimista demais. Para crescer 2,5% neste ano, depois de ter registrado variação de apenas 0,2% no primeiro trimestre, o PIB terá que disparar nos próximos. A consultoria Tendências calculou que o esforço necessário seria equivalente a um crescimento trimestral anualizado de 9,5%.

O Banco Central prefere apostar nos "efeitos cumulativos e defasados" dos estímulos monetários que vem aplicando; e tem tanta confiança neles que reforçou a opção pela "parcimônia" na condução da política monetária. Até mesmo porque o novo relatório eleva ligeiramente as previsões para a inflação deste ano, de 4,4% para 4,7%, dentro do cenário de referência, que pressupõe um dólar a R$ 2,00 e a taxa básica de juros em 8,5%. É a mesma previsão do mercado e provavelmente fruto da valorização do dólar. A taxa projetada para 2013 é bastante positiva, recuou de 5,3% para 5%, mas está ligeiramente acima dos 4,9% do mercado. Neste relatório, o BC aventura-se a prever a inflação já para o segundo trimestre de 2014, em 5,1%.

Mas o ponto central do relatório certamente é a expectativa para o desempenho da economia. O Banco Central exime com excesso de condescendência a política econômica de responsabilidade pelo fraco desempenho do PIB. A causa principal apontada é o cenário externo, com o agravamento da crise europeia, a desaceleração na China e a frágil recuperação dos EUA. Para o BC, a deterioração do cenário internacional contagia a economia brasileira, com a redução da confiança dos empresários, dos fluxos de comércio exterior e de investimentos e dos preços das commodities, entre outros canais.

Em consequência, desde o segundo semestre de 2011, a atividade doméstica passa por uma "moderação", que "foi maior do que se antecipava". Mas o Banco Central confia que a recuperação continuará, embora de forma bastante gradual, como mostram indicadores do segundo trimestre, acelerando nos próximos meses em resposta ao impacto dos estímulos dados inclusive na forma de afrouxamento do crédito para o consumo e investimentos, uma vez que, como repete sempre o BC, as ações de política monetária têm efeitos "defasados e cumulativos e ainda levarão algum tempo para que se manifestem integralmente sobre a atividade".

Ao analisar o comportamento do PIB no primeiro trimestre, o BC destacou o impacto negativo do setor agropecuário, que despencou 8,5%, prejudicado pela quebra das safras de soja, arroz e fumo, causada pela seca. O BC não espera a recuperação do desempenho catastrófico da agropecuária nos próximos trimestres, de modo que projeta o recuo de 1,5% do PIB setorial neste ano, com redução de quatro pontos percentuais em relação à estimativa anterior.

Já o setor industrial, segundo o BC, deverá crescer 1,9% no ano, também aquém do esperado, 1,8 ponto percentual, por causa do crescimento menor da indústria extrativa (de 5% para 3%), afetada pela desaceleração internacional. Também crescerão menos do que o esperado a indústria de transformação (de 3% para 0,5%) e a construção civil (de 5% para 4%).

Até o setor de serviços, que vem puxando o PIB pelo lado da oferta, teve o crescimento previsto revisado para baixo pelo Banco Central, de 3,3% para 2,8%, com recuo nos setores financeiro e de transporte.

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias deverá crescer menos, dos 4% anteriormente projetados para 3,5%, permanecendo o consumo do governo em 3,2%. Já a estimativa para o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) despencou, de 5% para 1%, para desespero dos defensores da necessidade de aumento dos investimentos.

Os números do relatório explicam a enxurrada de medidas de estímulo à economia anunciadas nas últimas semanas, como o apoio à agropecuária e a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP),

cobrada nas linhas do BNDES para financiar projetos de investimentos. Duvida-se, porém, que ações desconectadas tenham impacto substancial na economia.