Título: Sequência de perdas da Bovespa é a mais longa em uma década
Autor: Takar , Téo
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2012, Finanças, p. C2

A Bovespa concluirá hoje o terceiro semestre consecutivo de baixa, com perdas acumuladas de 24%, na mais longa sequência negativa desde o início da década passada, quando a bolsa caiu de janeiro de 2000 a junho de 2002. Este também será o pior trimestre desde o fim de 2008, logo após o estouro da crise financeira mundial. E a segunda pior semana do ano, atrás apenas do período de 14 a 18 de maio. Após o recuo de 0,86% de ontem, para os 52.852 pontos, o Ibovespa acumula baixas de 5% na semana, 3,4% em junho, 18,4% no trimestre e 7,2% no semestre.

Diante de um mercado tão negativo, e também de perspectivas domésticas e internacionais nada animadoras, qualquer previsão para o segundo semestre não passa de um chute. A projeção de 70 mil pontos para o Ibovespa no fim do ano, como muitas corretoras previam no início de 2012, parece cada vez mais distante.

"O jeito é continuar na defensiva até que algum fato novo aconteça, para o bem ou para o mal", sugere a estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi. Empresas que tenham desempenho previsível, como elétricas e telefonia, e boas pagadoras de dividendos são as apostas da maioria dos investidores nesse momento. "Mais do que ser defensivo, é importante que o papel tenha liquidez, para conseguir sair dele se bater o desespero nos mercados", observa Lika.

A Europa, mais uma vez, continuará no centro das atenções no próximo semestre. "Qualquer boa notícia da zona do euro pode ajudar o mercado a dar um "rally" para tentar apagar esse péssimo resultado do primeiro semestre", acredita a especialista da Fator. O cenário ainda é de desaceleração da economia mundial e pressão por austeridade fiscal nas nações endividadas. Olhando para o Brasil, a mão pesada do governo sobre os mercados deve seguir desagradando investidores, cada vez mais céticos sobre o ritmo de expansão do país em 2012.

No pregão de ontem, a cautela continuou prevalecendo entre os investidores, com as ações defensivas entre as principais altas. A bolsa brasileira acompanhou de perto o mau humor das bolsas americanas, mas aliviou a baixa nos últimos minutos de pregão, em linha com Wall Street. Os mercados reagiram no fechamento à notícia de que a premiê alemã, Angela Merkel, teria cancelado a entrevista coletiva que daria hoje à noite em Bruxelas. Com isso, ressurgiu a expectativa de que algo concreto contra a crise saia do encontro de líderes europeus, que continua hoje.

Fora isso, a Bovespa foi pressionada novamente pelas ações da OGX, e também por Vale e bancos. Aliás, a porteira das empresas "X" continuou escancarada, com fuga em massa de investidores estrangeiros. A forte queda dos papéis fez disparar as ordens de "stop loss" (venda a qualquer preço para limitar perdas).

"Foi a segunda vez seguida que a OGX frustrou um "guidance" [meta]", lembrou o chefe de análise da Ágora, José Francisco Cataldo, referindo-se à recente revisão para baixo dos planos de produção da empresa a longo prazo.

OGX ON caiu 19,20%, para R$ 5,05. Em dois dias, o papel já afundou 39,7%. A crise de confiança voltou a contaminar outros papéis do grupo: MMX ON (-17,08%), LLX ON (-8,07%), CCX ON (-8,79%) e OSX ON (-11,04%).