Título: Banco Carrefour sai do papel
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Finanças, p. C1

Começou a operar o Banco Carrefour, braço de financiamento ao consumo da rede de varejo francesa Carrefour. O banco nasce com cacife para ser um dos 50 maiores do sistema financeiro: tem 5,7 milhões de cartões e uma carteira de crédito de R$ 1,2 bilhão.

A perspectiva é ampliar a carteira de cartões em 15% nos próximos dois anos, chegando perto dos 7 milhões, informou o diretor de finanças e gestão do Carrefour, Stephane Kaloudoff, executivo de origem búlgara, nascido na Tunísia, que está no Brasil há um ano e meio, depois de uma passagem pelas operações na Argentina.

Um atrativo extra para o cartão será a bandeira Visa que passará a ter provavelmente até o final do ano. O mercado chegou a especular que a bandeira poderia ser a Aura, da financeira francesa Cetelem, do grupo BNP Paribas, parceira do Carrefour na área de serviços financeiros em vários mercados, inclusive na França e Argentina. Mas isso não se confirmou.

Desde 1997 a Cetelem e o Carrefour têm uma parceria na Carrefour Administradora de Cartões de Crédito (CACC), com 40% e 60%, respectivamente, que cuida da carteira de cartões da rede de varejo. A parceria será mantida no banco, cuja criação foi autorizada por decreto presidencial em julho de 2004. O funcionamento do banco foi finalmente aprovado pela diretoria do Banco Central (BC) no início deste mês. O banco será comandando por Celso Amâncio, ex-executivo da Casas Bahia, que está no Carrefour há um ano.

A demora, disse Kaloudoff, deveu-se mais à cautela da empresa nos preparativos e sua preocupação com sistemas de controles de risco do que à burocracia do BC.

O banco nasce com capital registrado de R$ 19,5 milhões, segundo o BC, e vai trabalhar com funding local. A idéia é usar a instituição como instrumento de financiamento das vendas da rede de varejo e oferecer produtos financeiros aos clientes.

Além do crédito por meio dos cartões e do crédito direto ao consumidor (CDC), o banco já conta inicialmente com a oferta de seguros em parceria com a Cardif, também do grupo BNP Paribas.

À medida que os negócios evoluírem, o Banco Carrefour vai ampliar o leque de produtos, incluindo o crédito pessoal e Kaloudoff não descarta mesmo o financiamento imobiliário. Na área de seguros, surgirão apólices residenciais e educacionais. "Nossos clientes têm uma certa aversão aos bancos", disse ele confiando no sucesso da fórmula de venda de produtos financeiros nas próprias lojas de varejo, em um ambiente simples e com transparência. O Carrefour fechou o ano passado com 99 hipermercados e 62 supermercados.

Com essa estratégia, o Carrefour segue os mesmos passos de outras redes de varejo que preferiram ter suas próprias instituições financeiras como a C&A com o ibi e a Pernambucanas. Já outras grandes redes preferem as parcerias, como o Pão de Açúcar e a Lojas Americanas com o Itaú; a Casas Bahia com o Bradesco; e o Wal-Mart, Ponto Frio e Magazine Luiza com o Unibanco.

Kaloudoff não quis precisar qual fatia os produtos financeiros poderão ter no bolo de receitas do Carrefour, atualmente composto por alimentos (60%) e outros (40%). Mas, sabe-se que a deflação dos preços dos alimentos está levando ao setor a diversificar. Depois de abrir postos de gasolina, o Carrefour já lançou até farmácias.