Título: Fed mantém juro pela 2ª reunião seguida, mas ainda teme inflação
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Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Finanças, p. C2

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve ontem a taxa de juro americana pela segunda reunião seguida, ganhando tempo para avaliar se a desaceleração do crescimento econômico irá conter as pressões inflacionárias. Conforme o esperado, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed (Fomc, na sigla em inglês) manteve o juro em 5,25% ao ano.

O placar da decisão foi de 10 votos a um. O presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, foi o único dissidente, alegando que era necessária uma taxa mais alta - assim como já havia feito na reunião de 8 de agosto. Economistas esperavam que o banco central dos Estados Unidos centraria seu discurso na expectativa de que a desaceleração da economia irá ajudar a reduzir a inflação. Os mercados financeiros vinham apostando que o ciclo de aperto monetário terminou.

O Fed, no entanto, deixou claro mais uma vez que ainda não tem confiança de que a economia está fora de um cenário inflacionário.

"Leituras do núcleo de inflação têm sido elevadas, e o alto nível da utilização de recursos, dos preços de energia e de outras commodities podem sustentar as pressões inflacionárias", apontou o Fed no comunicado logo após a reunião. "No entanto, essas pressões devem enfraquecer com o tempo."

O Fed também notou um esfriamento no mercado imobiliário. "A moderação do crescimento econômico parece continuar, parcialmente refletindo um desaquecimento do mercado imobiliário", acrescentou. "Entretanto, o comitê julga que alguns riscos inflacionários continuam."

Apesar de persistir a preocupação com a inflação, a decisão de ontem do Fed é coerente com indicadores econômicos divulgados nos últimos dias: terça-feira, o PPI (índice de preços ao produtor, na sigla em inglês) mostrou queda de 0,4% em seu núcleo (que exclui preços de alimentos e energia) em agosto, com alta de apenas 0,1% no índice geral. Na semana passada, o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) mostrou alta de apenas 0,2%, tanto no índice geral (que mostrou alta de 0,4% em julho) como no núcleo. Nos dois indicadores, os preços da energia - que vinham sendo o principal obstáculo a uma moderação na inflação - apresentaram redução.

Também favoreceu o controle da inflação o processo de desaceleração econômica no país. Ben Bernanke, presidente do Fed, vinha afirmando que uma redução no ritmo da economia americana seria um contraponto aos efeitos inflacionários das altas da energia influenciadas pela alta do petróleo.

Uma das preocupações dos analistas agora é o risco de que dois anos de altas consecutivas nos juros tenha sido cautela além da conta no combate à inflação.