Título: Chegam ao Brasil novos derivativos de commodities
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Finanças, p. C3

O Banco Société Générale acaba de conseguir aprovação da Comissão de Valores Mobiliários para negociar no mercado interno brasileiro, em reais, derivativos de commodities - como petróleo, gás natural, gasolina, os mais diversos metais, carvão, produtos petroquímicos, sem falar dos agrícolas -, muitos dos quais ainda não oferecidos no Brasil.

Essa é apenas uma parte da estratégia do banco francês para ampliar os negócios com esses instrumentos com empresas e bancos brasileiros. "Vamos oferecer mais desses produtos dentro e fora do Brasil", diz Adrian Lismore, diretor-gerente e chefe para a área de mercado de commodities e produtos estruturados do banco de investimento.

O irlandês veio de Nova York ao Brasil para ser um dos palestrantes em seminário de três dias para clientes que o banco está promovendo em São Paulo e no Rio. A idéia é acima de tudo educar os clientes sobre as complexas estruturas possíveis, os usos desses produtos, os tipos de negociação, os riscos envolvidos e as perspectivas de mercado.

"As diretorias financeiras e tesourarias da maior parte das grandes empresas brasileiras já estão muita familiarizadas com derivativos de câmbio e juros", comenta Paulo César Souza, diretor comercial do Société Générale. Segundo ele, no entanto, fora exceções, as companhias não usam derivativos de commodities em todo o seu potencial.

Lismore conta que o banco chegou a levar alguns clientes brasileiros para Nova York e Paris para ver como funcionam esses mercados mais de perto. No mundo, o Société Générale tem 275 pessoas dedicadas ao mercado de commodities e seus derivativos e futuros. O banco atua no mercado de balcão (entre as partes) e nas bolsas. "Temos condições não apenas de fazer mercado e dar preços, mas também podemos oferecer serviços."

Uma empresa pode usar um derivativo de commodities para proteção - hedge - contra oscilação de preços em suas receitas, no caso dos vendedores, ou de suas despesas. A volatilidade crescente no mercado desses produtos fez com eles passassem a ter participação cada vez maior no custo dos produtos vendidos pelas empresas - em alguns casos, passou de 3% para cerca de 15%, conta Lismore.

Um segundo estágio do uso de derivativos de commodities pelas empresas é o investimento do seu caixa em reais ou em dólares em produtos que possibilitem maior rentabilidade, mas com valor mínimo garantido. "Não vamos propor nenhuma especulação para as empresas", frisa Souza. É possível ainda usar créditos futuros de commodities a serem exportados, por exemplo, como garantia de operações de dívida em reais, em estruturas híbridas diversas.

O mercado de derivativos de commodities tem crescido muito e é necessário ficar sempre atento, no mercado de balcão, ao risco da contraparte na operações, diz Lismore. Cada vez mais bancos e fundos de hedge se voltaram a esse mercado para receber retornos mais elevados do que no mercado de renda fixa ou ações, conta ele.

Alguns fundos usam esses derivativos para diversificação de suas carteiras, dada a correlação negativa com o mercado de ações, por exemplo, explica. Há aqueles, como o fundo Amaranth Advisors, que fazem apostas direcionais, de alta no preço do gás natural, e perdem dinheiro com a queda de preços - no caso, as perdas estimadas são de US$ 2,6 bilhões. "Não podemos comentar esse caso, pois o Amaranth é nosso cliente", diz Lismore.