Título: Rato pede apoio para 2ª fase da reforma
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Finanças, p. C10

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, encerrou ontem a reunião anual da instituição fazendo um gesto de aproximação com os críticos do seu ambicioso projeto de reforma do Fundo, atacado nos últimos dias por países em desenvolvimento como o Brasil e a Índia.

Em seu discurso, Rato agradeceu aos críticos que "disseram que vão trabalhar conosco para fazer avançar a segunda fase [da reforma]" e citou dois, o ministro das Finanças da Índia, Palaniyappan Chidambaram, e o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega. Rato incluiu na última hora o nome de Mantega, que não aparece nas cópias do discurso que o Fundo divulgou.

"Entendo muito bem que a votação desta semana não é o fim do nosso trabalho com as cotas, mas o começo de um processo que vai continuar no próximo ano", disse Rato. "E reitero meu compromisso pessoal em procurar todos os nossos membros, para que o segundo estágio da reforma das cotas possa dar frutos muito brevemente."

Os integrantes do FMI aprovaram nesta semana uma resolução que aumenta a influência de quatro países em desenvolvimento no seu processo de decisão e propõe uma nova fórmula para definir as cotas de cada país na instituição. O desenho da fórmula será debatido nos próximos dois anos e seu objetivo é promover uma divisão mais equilibrada do poder no FMI.

China, México, Coréia do Sul e Turquia foram beneficiados com um pequeno aumento de cotas nesta semana. Mas países como o Brasil e a Índia temem que a reforma se esgote aí, diante das enormes dificuldades que os integrantes do Fundo terão a partir de agora para superar suas divergências em torno do desenho ideal para a nova fórmula.

A polêmica sobre as cotas dominou a reunião de Cingapura e deixou em segundo plano a discussão sobre outras reformas julgadas necessárias para que o FMI vença a crise de identidade que atravessa e encontre um papel mais relevante, num mundo em que os fluxos de capital se tornaram abundantes e poucos países têm interesse no dinheiro ou no aconselhamento do FMI.

Houve um pequeno avanço no debate sobre a criação de uma linha de crédito de emergência para socorrer países emergentes em dificuldades, um item da agenda de reformas do Fundo que interessa diretamente ao Brasil. "Há uma aceitação maior da idéia, que até outro dia alguns países nem queriam discutir", afirmou Mantega, numa entrevista que deu no sábado.

O tema recebeu uma menção especial num comunicado divulgado domingo, ao final de um encontro do comitê de ministros das Finanças que se reúne duas vezes por ano para examinar a atuação do FMI. Os ministros consideraram a discussão "bem-vinda" e pediram que a direção do Fundo apresente uma "proposta concreta" antes da próxima reunião, em abril.

A idéia da nova linha de crédito é oferecer uma espécie de seguro para países que adotarem políticas econômicas prudentes, de acordo com o figurino do FMI. O dinheiro poderia ser sacado rapidamente sempre que os países precisassem de ajuda para atravessar uma crise causada por um súbito aumento da desconfiança dos mercados.

Os defensores do mecanismo acreditam que ele ajudaria a prevenir crises desse tipo, ao conferir aos países beneficiários uma espécie de selo de qualidade. Mas muitos países temem que a nova linha de crédito tenha efeito contrário, criando um estigma para os países que se candidatarem aos seus benefícios e alimentando ainda mais a desconfiança dos investidores.