Título: Desconfiança assombra a Espanha
Autor: Atkins , Ralph
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2012, Finanças, p. C1

Os custos de financiamento da dívida soberana espanhola atingiram ontem um nível recorde durante a era do euro, depois de um esfriamento da confiança dos investidores quanto à capacidade de a Europa evitar um agravamento de sua crise de endividamento e de colocar fim às disputas entre as autoridades governamentais sobre como implementar uma supervisão bancária a todos os países membros.

O rendimento dos títulos espanhóis com prazo de 10 anos atingiu o pico de 6,8% ontem, poucos dias depois que os ministros da zona euro acordaram um pacote de socorro de € 100 bilhões beneficiando os bancos do país. Isso veio acompanhado de um aumento no rendimento dos títulos de países considerados de menor risco, como a Alemanha e o Reino Unido, onde as taxas de juros de mercado estavam em mínimos recordes.

"A crise está se agravando a um ritmo cada vez maior", disse Mark Schofield, estrategista sênior do Citigroup. "Os investidores estão cada vez mais assumindo antecipadamente dois riscos mais extremos: desagregação total da zona do euro ou união fiscal."

Autoridades insistiram em que a UE dispõe de suficientes mecanismos de curto prazo para enfrentar a crise com fundos de socorro, ao passo que o debate sobre medidas de mais longo prazo mudou de foco, concentrando-se agora em coordenação fiscal e supervisão bancária em âmbito pan-europeu.

Angela Merkel, a chanceler alemã, manifestou-se em apoio à regulamentação do sistema bancário europeu, embora não tenha apoiado um esquema de solução para a região como um todo, o que, teme Berlim, poderia onerar o país com uma responsabilidade solidária pelas dívidas de outros países.

"A Alemanha, e posso afirmá-lo em nome do país inteiro, está disposta a fazer mais pela integração, mas não podemos nos envolver em coisas que, estou convencida, nos conduziriam a um desastre ainda maior do que a situação em que estamos hoje", disse ela.

George Osborne, ministro das Finanças do Reino Unido, questionou se a saída dos gregos da zona do euro é um preço a ser pago para convencer a Alemanha a salvar a moeda única. "Eu simplesmente não sei se o governo alemão exige [uma] saída grega para explicar à sua população por que eles precisam fazer certas coisas: como uma união bancária, eurobônus e coisas coerentes com isso", disse ele.

Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu, entrou no debate sobre uma proposta de união bancária, defendendo que o BCE precisa assumir a responsabilidade de supervisionar os maiores bancos na zona do euro.

Os comentários ressaltaram a determinação das autoridades do BCE de implementar uma união bancária - apesar do ceticismo do Bundesbank, o BC alemão, e do risco de provocar guerras jurisdicionais envolvendo outras instituições da UE.

Desde sua criação em 1998, a principal missão do BCE tem sido controlar a inflação. Mas Constâncio disse que os tratados da UE já incluem disposições visando atribuir-lhe responsabilidades de supervisão. Ele confirmou não haver ainda uma posição formal do BCE.